terça-feira, 1 de novembro de 2011

Lapsos e erros - I


Errar é humano, já se sabe. Ao longo dos anos que tenho dedicado à História de Macau tenho deparado com muitos exemplos de lapsos (alguns cometidos por mim...) e até mesmo erros grosseiros que induzem em erro os mais incautos. Com este post inauguro uma série em que vou procurar corrigir as situações apontadas. Algumas, à custa de tanto se terem repetido, tornaram-se verdades incontestáveis mas, como poderão verificar, não é disso que se trata.
Esta imagem e legenda fazem parte do livro "Fontes para a história de Macau em Portugal e no estrangeiro".
Não se trata da igreja de s. Lázaro mas sim do convento onde hoje está o Quartel de S. Francisco.
Pedro de Ál(v)faro, natural de Sevilha, e João Baptista Lucarelli, italiano, natural de Pesaro, chegaram a Macau num domingo, 15 de Novembro de 1579 e levantaram o convento franciscano, que foi inaugurado a 2 de Fevereiro de 1580: «Escolheu-se o sítio com uma fonte de água viva, fora de pequena aglomeração. Em seguida, após uma missa solene com música, dirigem-se em cortejo para o local; o bispo (D. Melchior Carneiro) tira a primeira pazada e, depois dele, o reitor dos jesuítas (Pe. Cristóvão da Costa)... Queriam concluir os trabalhos para a festa da Purificação (2 de Fevereiro de 1580) e consagrar a capela a Nossa Senhora dos Anjos».
O P. Alexandre Valignano, em carta ao Geral da Companhia de Jesus, de 28-8-1580, informava: «Sete religiosos franciscanos vieram de Luçon (Filipinas) a Macau: são todos castelhanos, excepto um que é italiano; passaram quatro meses em Cantão; um faleceu; quatro preferiram regressar a Luçon; aos outros, o bispo deu-lhes um convento de mil escudos».
Um franciscano espanhol, que esteve em Macau em 1672 e que viveu nesse convento, escrevia: «O Convento é o do Nosso Padre S. Francisco. Está quase fora e apartado da cidade; as suas cercas servem pela maior parte de muralha a Macau. Ergue-se sobre uma penha, que as ondas ferem por três partes; é, por isso, muito vistoso, alegre e sadio. Foi fundado pelos filhos desta Província de S.Gregório das Filipinas, à maneira dos nossos conventos pobres da Espanha. E agora pertence à Santa Província da Madre de Deus dos religiosos descalços, aos quais os portugueses chamam frades capuchos. E assim este convento bem como o de S. Agostinho foram fundados por frades castelhanos e estiveram por algum tempo dependentes das Províncias das Filipinas.» (Sinica Franciscana, Vol. VII, p. 802).
O convento foi construído no sopé da colina à beira-mar; no topo da colina, construiu-se uma ermida a N. Sra. do Rosário para os que quizessem gozar mais completa solidão. A nova fundação franciscana foi chamada Custódia de S. Gregório da China.
Frei Jacinto de Deus, O. F. M., diz que o convento se construiu «sobre hum pequeno monte da parte do Oriente, em respeito da cidade, no começo de hua fermosa praya, cujas ondas de continuo ferem os muros, ficando o Convento com a vista para o mar, ao Leste, Norte, e Meio Dia, e das muitas Ilhas que por essas partes lançou a natureza, e tambem do principal da Cidade, que lhe fica ao Ocidente... O zelo das almas lhe acrescentou hum Seminario, em que se criassem 20 meninos».
Postal do final do séc. 19 vendo-se o coreto do Jardim de S. Francisco e ao fundo o quartel.
Este coreto nada tem a ver com o chamado 'pavilhão octagonal' construído décadas mais tarde e ainda hoje existente.
Foi Coelho do Amaral (governador) quem mandou demolir o convento e construir o quartel, segundo informa A. F. Marques Pereira nas Efemérides: «30 de Março de 1861:- Portaria do ministerio da marinha e ultramar, autorisando a demolição do convento de S. Francisco de Macau, e a construção no mesmo lugar, de um quartel para o batalhão de primeira linha».
«30 de Dezembro de 1866 - O batalhão de primeira linha de Macau tomou néste dia posse do seu novo quartel, vastíssimo e solido edificio, construido, desde os alicerces, no lugar do antigo convento de S. Francisco, pelo desenho e debaixo da immediata direcção do governador José Rodrigues Coelho do Amaral. Ao mesmo governador se deve a construção do forte de S. Francisco, ahi junto, que também ocupa o lugar do antigo forte, sendo porém, a planta e a obra, como no quartel, inteiramente differente e nova».
O quartel foi reconstruído em 1937. Junto ao convento havia um espaço arborizado, chamado Campo de S. Francisco; Coelho do Amaral transformou esse campo em jardim, fechando-o com uma balaustrada, a qual já desapareceu há muito. (...)
Nota: O texto não é de minha autoria mas não consegui até agora identificar o autor.

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