terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Istmo Taipa-Coloane: antes e depois

 Inauguração em 1968: carro do governador junto ao arco comemorativo
década 1990
década 1980: actualmente esta zona é donominada Co(loane)Tai(pa).

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

China Clipper: Manila-Macao flight

Carta enviada de Macau para Manila a 28 de Abril de 1937 no primeiro vôo de correio aéreo assegurado pela Pan Am entre Macau e os EUA. Uma das paragens/escalas obrigatórias era Manila, nas Filipinas.
Nota: aceda aos dois links sugeridos e fique a saber mais sobre o assunto lendo ou relendo outros post's.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Maçonaria em Macau

Muito se tem escrito sobre o papel da maçonaria na implantação da República em Portugal e também no papel decisivo que a Carbonária nela terá desempenhado como braço armado da primeira. Todavia, para além de uma ou outra referência bibliográfica, não é muito o que se sabe da acção destas organizações na instituição do regime republicano em Macau. É certo que os dados escasseiam (mesmo em Portugal), mas do que se conhece pode concluir-se que a Maçonaria também aqui desempenhou papel equivalente ao da sua congénere da “Metrópole”.
Evento em Macau onde são bem visíveis as bandeiras da monarquia: a morte/nascimento de um rei/príncipe?
O mesmo não se poderá dizer da Carbonária. Sobre esta associação secreta a bibliografia não é abundante, mas pelo menos existem alguns trabalhos, de certo detalhe, identificando-a essencialmente como o “exército civil” que apoiou os heróis da Rotunda nos acontecimentos que culminaram no dia 5 de Outubro de 1910. Um dos seus chefes era o próprio Machado dos Santos. O outro era Carlos da Maia que viria a governar Macau em 1914. Todavia, sobre a organização no Território o silêncio é absoluto. Embora a história de associações desse género seja sempre difícil de fazer dado o grau de secretismo de que se rodeavam pode dizer-se, com razoável certeza, que o silêncio que reina se deve apenas ao facto da organização não ter existido de todo na então colónia portuguesa da China, pelo menos nesse período. A única referência à Carbonária em Macau diz respeito à estada na cidade de cinco dos seus elementos presos por subversão em Portugal que para aqui foram exilados em 1898. Os cinco teriam, pouco depois da chegada, tentado aliciar alguns militares no sentido de sublevar a guarnição, prender o Governador e proclamar a República. A tentativa fracassou e os cinco voltaram a ser detidos cumprindo o resto da pena de exílio a que tinham sido anteriormente condenados, mas agora mais longe ainda, ou seja em Timor. Refira-se todavia que o relato destes factos se baseia apenas em alusões breves sem citação de fontes reproduzidas nalguma bibliografia relativa à história do movimento anarquista em Portugal e nada mais.
No que toca à Maçonaria o caso é bem diferente. A sua acção em Macau está relativamente documentada graças ao trabalho de investigação de alguns autores com destaque para o historiador A. H. De Oliveira Marques. Assim sabe-se hoje que o papel dos “pedreiros livres” na colónia portuguesa, reunidos em torno da “Loja Luís de Camões” foi decisivo não só na proclamação da República, como posteriormente no afastamento da elite dirigente monárquica e na consolidação do novo regime. De facto a “Loja Luís de Camões” incluía no seu seio um grande número de funcionários públicos de todos os escalões, militares da marinha e do exército, para além de advogados, engenheiros e jornalistas, ou seja o escol da colónia. Assim não é de admirar que o próprio ajudante de campo do último governador monárquico (Eduardo Marques) Álvaro de Melo Machado tenha sido escolhido para o substituir dois meses depois da proclamação do regime republicano.
Melo Machado era maçom desde 1907 tendo aderido nesse ano à loja lisboeta “Liberdade”. Aqui chegado passou, naturalmente a integrar-se nos quadros da “Loja Luís de Camões”. Para além deste à mesma loja pertenciam também, outros vultos que desempenhariam papel fulcral no rumo político que o Território haveria de tomar no futuro. Entre muitos conta-se com particular destaque a figura bem conhecida de Constâncio José da Silva, advogado jornalista e polemista, proprietário e redactor do jornal “A Verdade”que esteve na primeira linha do republicanismo na campanha pelo afastamento das figuras de proa da monarquia. Constâncio inspirou nomeadamente o levantamento das tropas que cercaram o Palácio da Praia Grande e obrigaram à ponta das baionetas o governador Eduardo Marques a publicar as novas leis da república que insistia obstinadamente em guardar na gaveta. Outro jornalista que ficaria para a posteridade pelas suas relações de medianeiro entre os revolucionários republicanos chineses e as autoridades locais, amigo pessoal de Sun Yat-sen (fundador da República da China) e igualmente redactor e proprietário de vários jornais era Francisco Hermenegildo Fernandes, figura sobre a qual muito se tem escrito e de quem ainda hoje pouco mais se sabe a não ser o que ele próprio de si deixou publicado.
O mais pode resumir-se à frieza de um currículo constante na “Repartição dos Assuntos Sínicos” onde era tradutor e os dados oficiais inclusos nos autos que contra si foram levantados pelos tribunais em diversos processos por alegado abuso de liberdade de imprensa que contra si foram movidos. Com menor destaque, mas não menos eficácia política salientou-se também o coronel José Luís Marques, um dos fundadores da maçonaria organizada em Macau que ocuparia durante largos anos a presidência do Leal Senado. Igualmente pouco citado, mas bem inserido nos centros de decisão encontrava-se o seu camarada de armas António Antunes, igualmente co-fundador da “Loja Luís de Camões”, que nos anos subsequentes a 1910 comandaria a Polícia de Segurança Pública.
Outro advogado de renome e republicano estrénuo pertencente à mesma loja era Damião Rodrigues, personalidade cujo perfil já abordei aqui em anteriores artigos igualmente devido às suas ligações estreitas à revolução republicana da China e também pelo combate desassombrado que travou, especialmente, contra a ditadura do “Estado Novo” de Salazar, já numa fase adiantada da sua vida. Para além dos nomes citados muitos outros o poderiam ser. O poeta Camilo Pessanha, que dispensa biografias, mesmo maçónicas, que outros já fizeram e com pormenor, seria um deles. Deste destaque, necessariamente limitado, fica excluído Rosa Duque, porventura um dos mais combativos jornalistas republicanos de Macau, que com a aproximação do golpe de 28 de Maio de 1926 chegou a anunciar na primeira página do jornal “O Combate” a sua  filiação maçónica e o alto grau de que era detentor naquela organização iniciática. A exclusão deve-se apenas ao facto de no momento em que a república se instaurava nos confins do Oriente, se contar entre os sargentos que na Rotunda, de armas na mão, com Machado Santos, sofriam o cerco e as arremetidas das tropas fieis a D. Manuel II comandadas por Paiva Couceiro.
Este breve artigo não ficaria completo sem uma referência curiosa que parece subscrever o dito do rei D. Carlos segundo o qual “Portugal era uma monarquia sem monárquicos”. Seria? Não se sabe! O que se sabe é que, em Macau, Bernardino de Senna Fernandes, 2º Conde de Senna Fernandes, tal como o ex-realista seu homónimo, Presidente Bernardino Machado, era já maçom e republicano numa época em que a monarquia vigorava em pleno e a República não passava de um ideal cuja concretização até entre os seus correligionários gerava dúvidas.
Texto da autoria de João Guedes publicado no seu blog - que volto a recomendar - Tempos D'Oriente.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Exposição "Nostalgia Renovada"

 Lei Chiu Vang: Largo do Senado na década de 1970
 O Largo do Senado no início do século XX numa fotografia anónima
Rua com restaurantes. Foto de José Neves Catela (1925-1941)
Lei Iok tin: Macau visto da Guia em 1968
O Macau antigo está a desaparecer. Nas ruas brilham as luzes de néon, casinos e arranha-céus surgem por toda a cidade. Quantos revêem na “Las Vegas do Oriente” a “pacífica Macau do passado”? Apesar de pertencerem ao passado, as imagens de um Macau antigo foram captadas pelas câmaras fotográficas e estão aqui patentes nesta exposição para reavivar as memórias de todos. A exposição Nostalgia Renovada: Macau Antigo + Novas Abordagens, organizada pelo Museu de Arte de Macau, em torno de antigas fotografias de Macau que servem de mote a um novo olhar contemporâneo sobre a cidade.
A exposição divide-se em duas secções: a primeira apresenta cerca de duzentas fotografias, que documentam a ambiência de Macau antigo. Dos fotógrafos antigos, destacam-se José Neves Catela, Lei Iok Tin, Tam Kai Hon, Ou Ping, Lei Chiu Vang, Fong Chi Fung e Sit Lek Kan, cujas imagens estão organizadas em dez séries de trabalhos, como “Ruínas de S. Paulo”, “Arcos Comemorativos dos Feriados Nacionais”, “Sol e Barco à Vela” e “Cenas de Rua”.
A segunda secção apresenta trabalhos de oito artistas convidados locais: Bianca Lei Sio Chong, Tyr, Vincent Hoi Kuok Meng (imagem acima), Candy Kuok Soi Peng, Wong Chon Kit, Peng Yun, Lou Chong Neng e Yves Sonolet. Estes artistas utilizaram diversas técnicas da arte contemporânea, como os multimédia, a dança e o teatro, para reproduzirem e reinterpretarem a ambiência de Macau antigo. (... )
O Museu de Arte de Macau dedica-se à recolha e estudo de fotografias de Macau antigo, e já realizou várias exposições sobre esta temática com vários fotógrafos locais.
Texto de introdução à exposição. Da autoria de Chan Hou Seng, director do Museu de Arte de Macau onde a mostra pode ser vista até ao próximo mês de Abril.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Loja com 50 anos vai fechar portas

Uma quinquilharia com mais de meio século de história vai encerrar este mês. Factores como a falta de mão-de-obra e de herdeiros levaram o casal Wu a decidir acabar com o negócio. Moradores da zona central da cidade lamentam o fim de mais uma loja antiga
No próximo dia 22, a quinquilharia “Wu Kan Kei” colocará um ponto final numa história com muitos capítulos. O casal proprietário do estabelecimento justificou o fecho de portas com vários factores, salientando que a idade avançada dos dois, a inexistência de herdeiros que pudessem continuar com o negócio e a falta de mão-de-obra pesaram na decisão.
A loja foi aberta há mais de 50 anos pelo pai do senhor Wu, começando por comercializar produtos de uso diário, desde meias a toalhas, passando mais tarde a vender também sapatos e malas. Actualmente, a maioria das vendas envolve artigos para bebés, a maioria dos quais importados do Japão, facto que também tem penalizado o volume de negócios, devido à desvalorização da moeda nipónica.
Situada na Travessa dos Algibebes, na zona central da cidade, a quinquilharia “Wu Kan Kei” é muito popular entre os moradores do bairro, que não escondem a sua tristeza por verem desaparecer mais uma loja antiga em Macau.
Para o casal Wu, o encerramento de lojas nos bairros antigos está relacionado sobretudo com dois problemas: as rendas elevadas e as dificuldades sentidas ao nível da contratação de mão-de-obra. O senhor Wu fez mesmo questão de advertir, em declarações à imprensa em língua chinesa, que a sua loja não é a primeira a fechar pelas razões apontadas nem será a última. Por isso, o casal Wu exortou o Governo a apoiar mais as lojas tradicionais dos bairros antigos.
Notícia do JTM de 19-01-2012

domingo, 22 de janeiro de 2012

Kung Hei Fat Choi - Gong Xi Fa Cai - 恭喜發財

A 23 de Janeiro comemora-se a entrada no ano do Dragão, animal que rege este ano lunar. O último foi no ano 2000. As celebrações prolongam-se até 16 de Fevereiro. Nesta época milhares de chineses viajam até Macau, o único local da China onde é possível jogar, legalmente, em casino.A tradução literal de Kung Hei Fat Choi é esta: 恭喜 significa "parabéns". 發財 significa "ficar rico/prosperidade". Em suma, quer dizer, Desejo-te as maiores felicidades! ou Que a prosperidade te acompanhe. Há quem o entenda como Feliz Ano Novo, mas como se vê não é disso que se trata. De acordo como dialecto falado na China assim muda a pronúncia. Kung Hei para o cantonense (Sul da China), "gong xi..." no mandarim. Na região de Fukien, por exemplo, diz-se de outra forma. Uma coisa é certa, escreve-se sempre da mesma maneira, pois a língua escrita é só uma!
Dragão (long em chinês) segundo a mitologia chinesa, foi um dos quatro animais sagrados convocados por Pan Ku (o deus criador) para participarem na criação do mundo e o único do zodíaco chinês que não é real. Ao contrário do que acontece no mundo ocidental, o dragão da China está associado à água (e não ao fogo) sendo um misto de vários animais místicos: olhos de tigre, corpo de serpente, patas de águia, chifres de veado, orelhas de boi, bigodes de carpa, etc.
É um signo caracterizado pela vitalidade, entusiasmo, orgulho, extravagância e ideais elevados. No Oriente, o dragão simboliza o imperador, e os chineses chamam-no o guardião da riqueza e do poder. É considerado um signo próspero.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Cinemas de Macau

Desde os primórdios do cinema, Macau 'acolheu' de forma entusiasta a 'democratização' da sétima arte. Nos primeiros 50 anos do século XX o território bateu recordes, quer em termos de número de salas de cinema quer em termos de espectadores.
Henrique Senna Fernandes, amante do cinema, num livro editado a título póstumo escreveu: “O mais remoto cinematógrafo de que temos notícia foi o «Chip Seng», situado na Rua da Caldeira…(…). Outro cinematógrafo, também situado no dédalo do Bazar, era o «Tin Lin», no Largo do Hong Kong Mio que, em 4 de Fevereiro de 1909, como reporta «A Verdade» da mesma data, exibia, além de filmes, trabalhos de prestidigitação(…). O primeiro cinematógrafo chamado o «Vitória», também um barracão, foi inaugurado em 9 de Janeiro de 1910, no terreno onde se ergue hoje o edifício dos Serviços Técnicos Municipais, na Rua do Dr. Soares, antigamente Rua da Cadeia (…)… temos a certeza de que, em 1915, era essa mesma companhia a companhia que explorava o «Victoria Theatre» de Hong Kong) que dirigia a exploração do segundo «Vitoria», agora instalado no edifício de tijolo e alvenaria da Rua dos Mercadores…”
Duas fotografias do cine-teatro Nam Van (1964-1995), um dos maiores que Macau teve, cedidas por Jon Doo.
No Anuário de Macau de 1950 vem publicada a 'planta' do cinema Vitória na rua dos Mercadores que era apresentada na bilheteira aquando da aquisição do bilhete. As galerias estava tinham duas classes de bilhete (1.ª e 2.ª) e a plateia três: 1.ª, 2.ª e 3.ª classe.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Delfino José Rodrigues Ribeiro: 1930-2012

Nasceu em Macau a 24 de Maio de 1930 (na casa da avó à Rua do Campo) e licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa tendo ingressado na Função Pública.  Iniciou a carreira profissional como subdelegado do Procurador da República da Câmara de Lisboa em 1955. Anos mais tarde, regressa a Macau, onde prosseguiu a carreira. Foi director do Arquivo Provincial do Registo Criminal, juiz do Tribunal de Polícia de Macau; director e docente dos cursos técnicos da Polícia Judiciária; inspector-adjunto da Polícia Judiciária (1969). A 22 de Abril de 1961 acontece a cerimónia de confirmação da posse como Inspector-Adjunto da Policia Judiciária que fundou.
Enquanto estudante, desenvolveu diversas actividades no Centro Universitário da Mocidade Portuguesa. Foi ainda director-geral dos Serviços de Intercâmbios da Mocidade Portuguesa.
Foi deputado por Macau em Portugal - Círculo de Macau - Comissão Ultramar entre 1969 e 1973 (X e XI legislaturas) onde se destaca pelo apoio ao Decreto-Lei n.º 420/70, que condiciona a produção, o tráfico e o uso de estupefacientes.  Em 1973 publica o Exame Prévio sobre a Toxicomania (editado pelo Centro de Informação e Turismo). Em 1980 foi eleito deputado por sufrágio indirecto para a Assembleia Legislativa de Macau. Morreu no passado dia 17 de Janeiro de 2012.

Delfino graduated in Law from the Classic University in Lisbon, Portugal, where he lived many years. In 1961, he returned to Macau to found and direct the Judiciary Police for 9 years, during which he held other posts such as Police Court Judge, Director of Criminal Archives, Director of Drug Addiction Combat Centre and Consultant for the International Institute for the Study of Drug Addiction in New York , USA. In 1970, after being classified in 1st place in all overseas territories of Portugal, was appointed Notary Public in Macau and began simultaneously to exercise liberal professional as a Lawyer.
For two mandates not completed because of the Revolution, he was Deputy of the National Assembly of Portugal as the only representative of Macau where he was elected Permanent Secretary of Overseas Commission. From 1979 to 1983 , he served as a member of the Macau Legislative Assembly. In November 1987, he led the first group of Portuguese Lawyers that, at the invitation of the Chinese Authorities, visited Mainland China (Canton).
In 1989, co-founder of the Law Association of Macau where he presided over the Superior Disciplinary Board of Lawyers (Conselho Superior de Advocacia).
He was also co-founder of ADIM (Civil Association for the Protection of Macau Interests ) and of Elos Club de Macau , President of Tennis Civil ,Vice-President of APIM (Associação Promotora de Instrução dos Macaenses ,ie, Association for Promoting Macanese Instruction ) and Vice-President for Asia of “Elos Internacional da Comunidade Lusíada”(an organization that, established in Brasil, links all Portuguese speaking Communities around the world ) and is an honorary member of Casa de Macau in São Paulo, Brasil.
After retiring as a lawyer and notary public, Delfino became the president of the Board of Trustees (presidente do Conselho de Curadores) to a Foundation he and a group of Macanese established in 1996 in Lisbon, with the main aim of giving assistance to those families that, due to the handover of Macau, decided to move their home to Portugal, although the institution is open to everybody. Its name is “Fundação do Santo Nome de Deus” (Holy Name of God, a title granted to the city of Macau by the King of Portugal) is located in a very good residential area with head office in a 8 storey building, comprising a home for seniors with 38 rooms and in the neighboring building, a small apart hotel that has been a meeting point for Macanese people that visit or pass by Lisbon especially from Macau, Brasil,USA and Canada. Delfino was married to Lorraine Au (b. 11 November 1931 Hong Kong).
Em Maio de 2006 Delfino Ribeiro proferiu uma palestra no Instituto Internacional de Macau (IIM), integrada na série de “serões macaenses” levados a efeito e que viram a luz do dia no formato livro através da colecção “Mosaico”.
“Retalhos de uma vida” foi o título escolhido pelo próprio autor. No texto reúne as memórias da sua vida, desde a infância até aos dias de hoje,  dedicando especial atenção à Fundação do Santo Nome de Deus, a cujo conselho de curadores presidiu, depois de intensa vida profissional e activa participação cívico-política em Macau e em Portugal.
Infância e escola
“O meu primeiro contacto com as letras foi pela mão da Soror Arminda, na secção infantil do Colégio de Santa Rosa de Lima, das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, e também através de Adelina Outeiro, que dava aulas na sua residência à Rua de Inácio Baptista.
A primária, tive-a na Calçada de Bom Jesus, na Calçada do Gamboa, ou seja, no cimo da Calçada do Tronco Velho, perto da antiga Escola Comercial e, por fim, em Tap Seac, no estabelecimento que continua hoje a exercer o seu mister. Em relação aos professores, vêm-me à memória Celestina de Mello e Sena, Vera de Senna Fernandes, Luís Gonzaga Gomes, Danilo Barreiros e Francisco Carvalho e Rêgo.
Com excepção do 7º ano, que frequentei no Monte Estoril, no Colégio João de Deus, cujo director e proprietário era o grande pedagogo João Dias Valente, fiz o liceu na Rua do Campo, em Tap Seac, no prédio onde está presentemente o Instituto Cultural.
Conheci vários professores: Torquato Gomes, Artur de Almeida Carneiro, Rodrigues Lima, Craveiro Lopes, Humberto Rodrigues, Mariazinha de Sousa Afonso, Clement Braga, Guedes de Andrade, Mercedes Pacheco Jorge, Pedro Guimarães Lobato, Ferreira de Castro, Garcia da Silva, Padres Maciel, Manuel da Costa Nunes, Júlio Augusto Massa, Manuel Teixeira e Áureo da Costa Nunes e, ainda, em educação física, Fernando Homem da Costa, Veríssimo do Rosário e João dos Santos Ferreira – este último famoso hoquista, que foi meu vizinho quando regressei a Macau em 1961 e, depois, colega de foro.(...) De entre os docentes que citei, destaco o Padre Massa, que foi quem mais me impressionou, quer como pedagogo e humanista quer pela enorme influência que exerceu nos seus alunos, dentro e fora do liceu, com eles convivendo nos eventos desportivos, nos passeios, bailes e em outros actos da vida quotidiana.(...)
Foi para mim uma elevada honra tê-lo como amigo e confidente durante mais de meio século e a ele devo em grande parte a minha formação, naquilo que porvenura tenha de bom. Doutorado em Filosofia pela Universidade de Salamanca depois de se licenciar pela Universidade Gregoriana de Roma, e com pós-graduação em Ciências Sociais no Instituto Leão XIII de Madrid, faleceu há perto de três anos em Lisboa, onde se encontrava há muito radicado. Purista na arte de escrever, deixou uma valiosa obra em prosa e verso, como grande pensador e magnífico poeta virado para o soneto (produziu 600!) – isto, segundo as suas próprias palavras, ‘pela sua concisão, pelo ritmo, pela música, a traduzir o pensamento, sobretudo filosófico’.
A todos estes docentes que contribuíram em maior ou menor grau para a educação da minha geração, vai a minha respeitosa homenagem. Estava-se então na II Guerra Mundial, em que o número de refugiados, incluindo os membros da comunidade portuguesa de Hong Kong, aumentava assustadoramente e a falta de géneros alimentícios e outros de primeira necessidade se agravava, arrastando consigo a fome, a doença, os furtos, roubos, assaltos e outras sequelas nocivas ao bem estar das pessoas e à segurança dos bens.
As incertezas sobre o devir eram enormes e, talvez por esta razão, apenas se podia contar com o presente, que se procurava aproveitar o melhor possível, preenchendo-o com reuniões sociais, culturais e desportivas e outras festas, o que dava à urbe um ambiente trepidante e aparentemente alegre e despreocupado, em contraste com a miséria que, de mãos dadas, grassava em todos os cantos e recantos.”
A guerra
“Os que viveram nesta época devem estar lembrados do clima de tensão que pairava neste centro de espionagem em que actuavam, dum lado, os homens de Chiang Kai Cheak e das forças aliadas e, do outro, os nipónicos que dominavam toda esta região, sendo lugar comum e prato do dia os tiroteios, homicídios, assaltos, e outros incidentes e atropelos à lei e à ordem pública. A este propósito, em 10 de Julho de 1945, um tio meu, Fernando de Senna Fernandes Rodrigues ou simplesmente Fernando Rodrigues, conceituado comerciante que presidia à Cruz Vermelha, foi, à saída de um funeral no cemitério de S. Miguel, barbaramente assassinado, a mando do sinistro comandante militar japonês Coronel Sauer, com vários tiros por um capanga do famigerado facínora e mercenário Vong Kon Kit (cujo fim acabaria posteriormente por ser também trágico), tendo as duas filhas do meu tio, que o acompanhavam, sido feridas. Este atentado foi como que o funesto desfecho de um litígio provocado pelo abastecimento de arroz, cujo acesso a Macau se fazia por dois canais marítimos: um controlado pelos japoneses, que cobravam uma taxa alfandegária que vinha onerar em muito o custo deste alimento de primeira necessidade, e outro que era utilizado pelos “contrabandistas” (assim classificados pelas autoridades nipónicas) que traziam o arroz, que era vendido a preço inferior, estimulados pelo meu tio, que, brigão e temerário, se mostrava indiferente a contínuas ameaças de represália. Ora, para minorar este estado de coisas, a PSP, com a aprovação do Governador Comandante Gabriel Maurício Teixeira (que, mais tarde, com a rendição das forças do eixo, viria a ser nomeado Governador-Geral de Moçambique), e sob o comando do capitão Carlos Alberto Rodrigues Ribeiro da Cunha, criou uma brigada especial dirigida por Sebastião Voltaire Pinto de Morais, que passou a ser alcunhada de “Spitfire”, devido talvez à presteza e precisão com que actuava nas suas missões, à semelhança dos aviões de caça britânicos do mesmo nome, que imenso terror provocaram na II Grande Guerra. Brigada que foi, em momentos tão conturbados, uma referência marcante da administração portuguesa.
Todavia, instaurada a paz, o capitão Ribeiro da Cunha, o chefe Pinto de Morais e os seus subordinados subchefe José António David e guarda Alberto Cortiço Paz foram presos em 31 de Julho de 1946 e transferidos para Moçambique, sob a alegação de prática de vários crimes, tais como extorsão junto de fumatórios de ópio e de emissores clandestinos, roubo, homicídio, rapto e cárcere privado em que teriam sido vítimas alguns chineses (um dos quais Chan Va Ian, procurado por traição pelo General Van Ian Chek da China Nacionalista) e José Maria Alves, intérprete da Secção Especial do Exército Japonês, e sua companheira Rony, arrebatados da hospedaria ‘Aurora Portuguesa’ da Rua do Campo.
Os arguidos, posteriormente enviados para a capital do nosso País, mantiveram-se escandalosamente presos durante 14 anos até Julho de 1960, quando foram julgados e absolvidos pelo Colectivo do 2.o Tribunal Militar Territorial de Lisboa.”

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Morreu José Luís Machado, ex-comandante militar

José Luís Machado, pai de Luís Machado, faleceu ontem (dia 17) a poucos dias de completar 90 anos. Deixa para trás um importante passado militar e um casamento de seis décadas
A farda acompanhou-o em grande parte da vida. O cabelo impecavelmente penteado para trás também, quando os fios eram negros e quando se tornaram brancos. José Luís Machado, residente em Oeiras, faleceu ontem no Hospital de São Francisco Xavier. Permanecerá a recordação de um homem com um percurso cheio de louvores e condecorações. A passagem por Macau marcou-lhe a vida.
Nascido no norte de Portugal, José Luís Machado entra na Escola do Exército em Lisboa, onde inicia o curso de artilharia, corria o ano de 1942. Essa decisão serviria de trampolim a várias viagens até às antigas colónias portuguesas. Em 1947 é enviado para Moçambique e entre o mesmo ano e o seguinte, acompanha uma expedição para a Índia com a Bateria Ligeira de Moçambique. Os anos ’49 e ’50 são passados em Lourenço Marques, sendo promovido a capitão em 1951. Meses depois, regressa a Portugal, passa por Évora e por Vendas Novas.

José Machado, então comandante da PSP, e a esposa, conversam com o governador Nobre de Carvalho e Teddy Yip no casino Estoril, em Janeiro de 1968
É em meados do século que Macau se cruza nas rotas de José Luís Machado. A chegada acontece em 1954, integrando o Agrupamento de Artilharia como capitão. adjunto do Comandante de Agrupamento, depois director do Depósito de Material de Guerra e chefe de Serviço de Material foram outros dos cargos desempenhados até 1960.
Os três anos seguintes são preenchidos por mais uma viagem, desta vez Angola. No entanto, 1967 traz um regresso ao território. Entre esse ano e 1971, o tenente-coronel José Luís Machado assume o cargo de comandante da Polícia de Segurança Pública. E até 1973 desempenha, já com as insígnias de coronel, as funções de comandante militar, no Comando Territorial Independente de Macau.
Nessa altura, a partida é em direcção a Portugal para se tornar comandante da Escola Prática de Artilharia, assumindo também as funções de professor. Entre 1974 e 1984, José Luís Machado passa pela direcção da Arma de Artilharia. Coronel adjunto, bibliotecário e comandante do aquartelamento são outras das funções desempenhadas em vida. Em 1989, reforma-se, acumulando um percurso repleto de louvores, ao todo 20, e 12 condecorações.
A par do percurso profissional, a vida de José Luís Machado ficou marcada por um longo enlace, o do casamento que completava no próximo mês 64 anos de longevidade. Deixou ainda quatro filhos, oito netos e duas bisnetas.
Excerto de notícia do JTM de 18-01-2012

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Troço da Estrada de S. Francisco: década 1960

Na imagem destaque - em baixo - para os aterros do Porto Exterior ocupados por hortas vendo-se ao fundo as vivendas que acompanhavam a av. Dr. Rodrigo Rodrigues. Em cima, o hospital S. Januário na versão da década de 1950.
Esta estrada nos seus primórdios começava na Calçada dos Quartéis (a que dá acesso ao quartel propriamente dito, hoje museu das Forças de Segurança). Com os primeiros aterros da baía da Praia Grande (anos 20 a anos 40) - ver imagens em baixo - surgiram novos arruamentos e foi então que o início da estrada passou a ser ligeiramente mais à frente, no cruzamento da av. Dr. Rodrigo Rodrigues com a rua da Praia Grande (junto à muralha do quartel de S. Francisco). A estrada termina somente na Estrada dos Parses. Entre os chineses é conhecida por Ka Si Lán Má Lou, ou seja, rua dos Castelhanos (frades que fundaram o convento de S. Francisco; daí que tb o jardim sejam conhecido entre os chineses como Jardim dos Castelhanos - Ka Si Lán Fa Yun).
 O início da Estrada de S. Francisco no final do século XIX e na década de 1930

sábado, 14 de janeiro de 2012

Penteadeira: década 1960

Uma penteadeira "numa das ruas marginais do Porto Interior" atende uma cliente. A fotografia foi-me oferecida pela Drª Ana Maria Amaro, que foi professora do Liceu na época. Tal como as penteadeiras, também os barbeiros exerciam a sua profissão na rua um pouco por toda a cidade, com destaque para zonas como a Estrada do Arco, a Travessa das Galinholas, a Rua Cinco de Outubro, o Pátio do Piloto, entre outras.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Fósforos





O fabrico de panchões, pivetes e fósforos constituíram as principais indústrias tradicionais e exportações de Macau no séc. XX. Existem centenas de exemplares de caixas de fósforos, como estas... Pode ainda ver mais utilizando o campo da pesquisa (fósforos).

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Instituto Cultural apoia autores macaenses e portugueses

O Instituto Cultural (IC) irá lançar uma série de publicações de obras literárias de autores macaenses e portugueses. Segundo Kerria Kuok, da Divisão de Projectos Especiais do IC, a primeira das obras a ser republicada será “A Cozinha de Macau de Casa do Meu Avô”, de Graça Pacheco Jorge, neta do famoso coleccionador macaense José Vicente Jorge.
O IC considera que reedição do livro “contribuirá, sem dúvida, para reforçar a candidatura da culinária macaense a Património Intangível Nacional Chinês”. Paralelamente, e como já tinha sido anunciado, o IC tem “em fase de andamento” os projectos de criação de um Museu da Literatura de Macau, que albergará obras de autores macaenses e portugueses, todas elas relacionadas com o território.
O anúncio da publicação de “A Cozinha de Macau de Casa do Meu Avô” acontece poucos dias depois do encontro entre Guilherme Ung Vai Meng, Pedro Barreiros e Graça Pacheco Jorge, que decorreu na sede do IC. Durante a reunião (ver foto), onde esteve também presente Wong Man Fai, o Chefe da Divisão de Estudos, Investigação e Publicações, Ung Vai Meng “manifestou a sua vontade de ter a colaboração da comunidade macaense na conservação do património cultural, bem como o seu apoio na promoção da cultura de Macau”. Segundo um comunicado do IC, o presidente do IC frisou ainda que será criada uma base de dados de autores macaenses, “permitindo ao público em geral aprofundar os seus conhecimentos sobre a literatura de Macau e o seu desenvolvimento através da história”. Pedro Barreiros e Graça Pacheco Jorge mostraram-se favoráveis à futura colaboração entre o casal e o IC na conservação do património cultural, na publicação de livros e na fundação do Museu da Literatura de Macau.
Excerto de notícia (e foto) publicada no JTM de 12-02-2012

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Convento das Carmelitas

O convento à direita pouco depois da construção. Hoje já não existe.
O convento na década de 1970 (cima) e na década de 1960 (baixo)

Escrevendo em 1744, Frei José de Jesus Maria, na Azia Sinica e Japonica, Vol. I, p. 206, menciona a «Hermida do Bom Jesus da Penha, que ultimamente, à sua custa edificou a esta milagrosa Imagem Francisco Xavier Doutel homem Fidalgo, hoje Governador das Ilhas de Timor»; construiu também ali uma Via Sacra, que encontrou certa oposição da parte do Prelado da Diocese.
Francisco Xavier Doutel era natural de Bragança (Portugal), donde veio para Macau em 1698 onde casou com Francisca Pereira, proprietária do Monte do Bom Jesus. Em 1831, esse monte pertencia a Inácia Vicência de Paiva, filha de Domingos Marques e de Maria Francisca dos Anjos Ribeiro Guimarães, e casada com o capitalista Francisco José da Paiva. Mais tarde, o Monte do Bom Jesus veio parar às mãos do Comissário das Alfândegas Chinesas em Macau, que ali tinha as estrebarias dos seus cavalos, havendo lá um grande poço. Em 1923, o Comissário vendeu o Monte do Bom Jesus à Diocese de Macau, tendo o bispo D. José da Costa Nunes incumbido dessa aquisição o Reitor do Seminário de S. José, P. Francisco Bonito Bragança.
As Carmelitas vieram de Hong Kong para Macau a 22 de Outubro de 1941, estabelecendo-se na «Vila Flora», na Guia. Com um donativo duma senhora, compraram um terreno em Mong-Há, onde pretendiam construir o seu mosteiro uma intenção que não se realizou no momento já que a 8 de Dezembro desse ano rebentou a Guerra do Pacífico.
Em 1949, o Bispo D. João de Deus Ramalho ofereceu-lhes o Monte do Bom Jesus em troca do terreno de Mong-Há e elas aceitaram. A 21 de Janeiro de 1950, confiaram a construção do seu mosteiro ao construtor civil Oseo Acconci. Na altura da construção foi encontrado um  poço que remonta às utilizações anteriores do espaço que já referi antes. 
O mosteiro foi inaugurado a 2 de Abril de 1951, sendo a respectiva Capela dedicada a N. Senhora do Carmo. A antiga, ali construída aí por 1740, era dedicada ao Bom Jesus e foi ela que deu o nome ao monte.
NA: a partir de um texto de Monsenhor Manuel Teixeira

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Panchão

A propósito do ano novo chinês que se aproxima - dedicado ao dragão - recordo o Glossário do Dialecto Macaense – notas linguísticas, etnográficas e folclóricas (Macau, Instituto Cultural de Macau, 1988), de Graciete Nogueira e o termo "panchão".
Poderá tratar-se de um neologismo formado a partir do termo chinês Bianpao (cartucho de pólvora revestido por papel). No dicionário Houaiss a palavra "panchão" é definida como termo da pirotecnia e regionalismo de Macau, com o significado de «foguete chinês queimado nas festividades, esp. no Ano-Novo Lunar»; diz ainda que vem do «chinês» 'pau-tcheong'.
O referido dicionário atribui a primeira atestação do termo ao orientalista Monsenhor Sebastião Rodolfo Dalgado, que o incluiu no Glossário Luso-Asiático (1919-1921).
Em suma, um panchão é um cartucho de pólvora revestido por papel vermelho. Na China é tradicionalmente queimado para cumprir um dos rituais do Ano Novo chinês. De acordo com a lenda, a queima dos panchões, cujo rebentamento produz um ruído ensurdecedor, destina-se a afugentar um animal sobrenatural que mata pessoas e gado no fim do ano.
Uma particularidade pouco notada é o facto dos panchões serem acesos com um pivete / pau de incenso, idêntico aos que são queimados nos templos ou à porta das casas, e não com um isqueiro ou fósforo.
Antigamente a queima de panchões era permitida em qualquer parte da cidade de Macau. Houve no entanto excepções, como no período relacionado com os eventos do 1,2,3 em 1966. Há várias décadas que a situação se alterou. Nos primerios anos do século XX já existia regulamentação específica e, mesmo antes, na zona do bazar foi proíbida a sua queima devido aos inúmeros incêndios que ali deflagravam. Dado o forte enraízamento cutlural deste ritual, a proibição era a maior parte das vezes ignorada. 
A falta de regras de segurança no fabrico deste tipo de material  provocou inúmeros acidentes e explosões ao longo da história. Algumas das mais conhecidas, para além das ocorridas no século XIX, são as das décadas de 1930 e 1950. Os estandais de panchões a secar na rua são uma das marcas das fotografias de Macau de todo o século XX. Na Taipa, junto à Porta do Cerco ou no terreiro frente ao templo de A-Ma.

Só no final do séc. XX a situação melhorou substancialmente. As zonas de comércio e de rebentamento passaram a estar separadas, por exemplo. Tudo isto porque um dos grandes pilares da economia local foi, durante largas décadas, o fabrico de fósforos, pivetes, panchões, etc...
Na imagem a queima de uma panchão no final da década de 1960 no Largo do Senado.
Na imagem uma das marcas - pato - da mais conhecida fábrica de Macau que ficava na Taipa (ainda existe o edifício), a Yec Long na rua Miguel Aires, nº 14. Atente-se no alerta "Não conservar os panchões acesos na mão". Para a década de 1960 pode-se considerar uma inovação em termos de segurança e preocupação com os consumidores.
NA: clic nas imagens para ver em tamanho maior.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Exposição recorda origens macaenses


A Casa das Ilhas das Casas-Museu da Taipa renovou a sua exposição permanente, passando a apresentar uma nova mostra intitulada “Ilhas de Graça Remanescente – Exposição de Cultura Macaense”.
De acordo com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), a exposição integra duas secções: uma ilustra as origens históricas e culturais dos macaenses e a outra revela aspectos da religião e cultura na comunidade portuguesa.
A exposição abrange obras de uma colecção recentemente adquirida, sendo que muitas são expostas pela primeira vez. Entre as obras agora desvendadas, o IACM destaca um mapa da Península Ibérica que mostra a geografia de Portugal no século XIX, bem como fotografias que retratam as actividades sociais dos macaenses. Na Casa das Ilhas está ainda disponível uma zona de projecção de fotografias antigas.
Origens históricas e culturais dos macaenses e várias vertentes da comunidade portuguesa são reavivadas numa exposição organizada pelo IACM nas Casas-Museu da Taipa.
“Tendo a Baía de Nossa Senhora da Esperança (veja aqui as fotos de 1921 ano em que os edifícios foram construídos) em pano de fundo, as Casas-Museu da Taipa e os elementos arquitectónicos que as envolvem, foram outrora locais de residência de pessoas da comunidade portuguesa. Não obstante a transformação que o panorama foi sofrendo ao longo do tempo, as Casas mantêm o ambiente bucólico e mostram a interligação das culturas chinesa e portuguesa”, sublinha o IACM.
Para o organismo, a exposição agora lançada “traz à luz do dia histórias esquecidas de Macau e as saudades que alimentavam o espírito da comunidade portuguesa”. As Casas-Museu da Taipa encontram-se abertas ao público todos os dias, das 10 às 18 horas, excepto à segunda-feira. A entrada é livre.
Notícia do JTM de 19-12-2011
Antiga maternidade e biblioteca na Taipa

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Notas sobre a vida de José Vicente Jorge

José Vicente Jorge nasceu em Macau na Freguesia de São Lourenço, a 27 de Dezembro de 1872. Foi baptizado no dia 29 de Dezembro, na Igreja paroquial de São Lourenço pelo vigário da mesma, padre Francisco Xavier Castela. A família Jorge encontra-se em Macau seguramente desde 1700.
O seu avô paterno, José Vicente Caetano Jorge, nasceu na freguesia de São Lourenço em 17 de Março de 1803 e faleceu provavelmente a 31 de Março de 1857. Estudou ciência náutica, após o que enveredou por uma bem sucedida carreira de negociante e exportador em navios próprios, granjeando uma sólida fortuna. Esteve também ligado ao negócio da emigração de trabalhadores chineses, pelo que foi criticado, tal como outros empresários envolvidos neste negócio, por Eça de Queirós. Foi almodacém da câmara em 1831,vereador entre 1837 e 1838, procurador do concelho em 1840 e 1845, e provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Casou pela 1ª vez com Ana Rita Inocência Lopes de quem enviuvou em 1849. Casou pela 2ª vez, com Emília Antónia Xavier, provavelmente, na igreja de Santo António. Um dos filhos desta ligação foi Câncio José Jorge, nascido em 4 de Dezembro de 1849. Formado como Interprete--tradutor, Câncio Jorge, foi administrador do Concelho de Macau, vereador, vice-presidente e presidente do Leal Senado e secretário do Instituto Humanitário Firmino da Costa. Em 27 de Outubro de 1883 foi nomeado cônsul interino de Portugal no Sião e nos estabelecimentos britânicos dos estreitos de Singapura, Malaca e suas dependências.
Era pessoa influente nas comunidades portuguesa e chinesa de Macau na segunda metade do séc. XIX, tendo sido um dos sócios fundadores do Clube União em 1879 e eleito seu secretário em 1899, integrando em 1898 a Comissão Comemorativa do IV Centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia. Câncio José Jorge faleceu em São Lourenço em 22 Dezembro de 1900.
À semelhança de outras figuras que vieram a destacar-se nos meios intelectuais de Macau na viragem do séc. XIX para o séc. XX, José Vicente Jorge estudou sempre em Macau. O seu ambiente familiar era decerto de grande envolvimento cultural. Seu pai, jurista e homem influente na governação de Macau e nas suas relações exteriores, muito deve ter influenciado o seu desenvolvimento intelectual e marcado as suas preferências culturais. Tal como se usava na altura, aprendeu as primeiras letras em casa, falando desde o berço o português e o cantonense.
O Liceu de Macau só foi inaugurado em 1894, altura em que José Jorge já tinha vinte e dois anos, estava à beira do casamento e era intérprete tradutor. Na sua geração e antes da fundação do Liceu, havia em Macau as seguintes escolas mais importantes: Escola Central do Sexo Masculino, Escola Particular D. Maria Outeiro da Silva, Escola do Príncipe Real D. Carlos e o Seminário Diocesano. Foi neste último estabelecimento de ensino, por ele anteriormente frequentado, que seu pai o matriculou. O ensino era rigoroso com essa equipa docente e, dos 326 alunos que se matricularam no ano seguinte, apenas quatro obtiveram a aprovação final. Durante o período de formação de José Vicente Jorge, figura como professor de chinês (dialecto de Pequim) Pedro Nolasco da Silva, que sobre ele veio a exercer grande influência no desenvolver da sua maturidade profissional.
Em 21 de Novembro de 1895, data do seu casamento com Matilde Pacheco, e segundo consta do respectivo assento, José Vicente Jorge era já intérprete-sinólogo da Repartição do Expediente Sínico. Após ter terminado os estudos secundários, fez a sua formação na Escola de Intérpretes daquela repartição. Ainda aluno passou a integrar, em 12 de Março de 1890 o quadro da mesma Repartição e dedicou a essa actividade a primeira parte da sua vida profissional. Para além das línguas chinesa e portuguesa, a escola de intérpretes exigia curricularmente o conhecimento do inglês e do francês e de uma formação bastante diferenciada em História, Literatura, Filosofia e Arte Chinesa nas suas diversas expressões.Dedicou-se a fundo, desde cedo, ao estudo da história das relações diplomáticas entre Portugal e a China, nomeadamente através de Macau, tornando-se posteriormente destacado elemento dentro deste relacionamento. (...)
Desde 1890 e para o resto da vida em Macau, José Jorge é pois tradutor e intérprete da Repartição do Expediente Sínico, assinando numerosas traduções de chinês para português e de português para chinês, figurando o seu nome em muitos documentos oficiais e na imprensa local. Vai dando, entretanto, a sua colaboração em outros campos da actividade cultural, social e intelectual de Macau. Em 1898, secretaria a comissão executiva dos festejos do quarto centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia. Em 1903, O Patriota noticia a sua nomeação para reger a cadeira de língua sínica no Instituto Comercial, anexo ao Liceu de Macau, por proposta do conselho escolar do mesmo. Em 1907, publica o primeiro volume da obra San-Tok-Pun – Novo Methodo de Leitura, tradução com anotações suas para o ensino da língua chinesa. O projecto inicial era de oito volumes, mas só foram editados dois, datando o último de 1908. Cerca de 15 de Junho de 1908 é destacado como intérprete para a Legação de Portugal em Pequim, partindo para a sua longínqua missão logo em 20 de Junho.
A família, composta pela sua mulher, mãe e os seis filhos do casal nascidos até à altura juntar-se-lhe-á em Novembro do mesmo ano. Uma vez instalado em Pequim, contacta com grandes conhecedores da cultura e da arte chinesas que, considerados por ele como os seus verdadeiros mestres, contribuem para a consolidação da sua já bem desenvolvida formação e lhe transmitem o saber necessário para a realização dos seus futuros trabalhos e acompanha de perto o movimento reformador republicano que se forma em Pequim.
Em 16 de Maio de 1909, o Vida Nova noticia, a pág. 3: [...] É-nos em extremo agradavel dar aos nossos leitores a noticia de que o nosso amigo o Sr. José Vicente Jorge, digno sub chefe da Repartição do Expediente Sinico de Macau, hoje addido á legação de Portugal em Pekim, como secretario chinez, foi galardoado com a rara e apreciavel mercê honorifica do Dragão Duplo, nº 1 da 3ª classe. Esta distincção é tanto mais de apreciar quanto é certo que insignias d´esta classe só são concedidas aos primeiros secretarios das legações. As nossas sinceras felicitações.[...]
Chegado a Macau após umas curtas férias e, embora continuando a ser classificado como 2º intérprete de 1ª classe e subchefe da Repartição Técnica do Expediente Sínico, passa a exercer interinamente, desde 26 de Junho de 1911, as funções de chefe com a simultaneidade inerente ao cargo da Chefia da Procuratura do Expediente Sínico. Exerce essas chefias até 1920, com múltiplas deslocações a Cantão em missões especiais, como delegado do governador de Macau.
É nomeado várias vezes para o Conselho da Província de Macau como aconteceu em 1913/1914, integra a Comissão Directora do Colégio de Santa Rosa de Lima no ano lectivo 1913/1914, preside regularmente ao júri dos exames dos alunos do Expediente Sínico e retoma, no finais de 1911, a regência interina da cadeira de Língua Sínica no Instituto Comercial, por nomeação do Leal Senado. Já deste período é a sua tradução das Leituras Chinesas, Kuok Man Kau Fo Shü, livro destinado ao ensino de chinês em Macau, livro esse que sido mandado adoptar pelo Ministério da Instrução Pública da Nova República Chinesa. Esta obra é a primeira que faz em colaboração com o seu colega e amigo Camilo Pessanha. Situa-se ainda neste período uma tradução que ofereceu à Repartição do Expediente Sínico, com 177 páginas dactilografadas e inúmeras anotações do tradutor: A Sociedade dos Três ou A Sociedade Céu e Terra, O Lótus Branco e outras Sociedades Secretas. Esta obra, de imenso interesse para o conhecimento da história e dos costumes chineses, foi traduzida do livro publicado em Hong Kong em 1900, da autoria de William Stanton, The Triad Society or Heaven and Earth Association. Em 1919, é nomeado vogal da Comissão de Assistência Judiciária. Alguns meses após a sua aposentação do Expediente Sínico, será nomeado em Novembro de 1920 na qualidade de solicitador, 2º Juiz substituto do Tribunal Privativo dos Chinas para o ano judicial de 1920-1921 e, simultaneamente, vogal representante da comunidade chinesa ao Conselho Legislativo. Voltará a exercer as funções de 2º Juiz substituto pelo menos em 1921, 1923 e 1926. Nessa altura, Agosto de 1920, inicia com entusiasmo a segunda fase da sua vida. No dia 27 daquele mês, é nomeado para reger provisoriamente as cadeiras do 3º grupo do Liceu Central de Macau. Toma posse em 6 de Novembro do mesmo ano e a provisoriedade dura até 1931, sendo regente da cadeira de inglês.
No Boletim Oficial de 19 de Junho de 1920, são publicados os estatutos do Instituto de Macau. Fundado pelos Drs. Humberto de Avelar e Tello de Azevedo Gomes, era uma instituição que reunia os homens mais cultos e estudiosos de Macau de então, embora pudesse haver grandes diferenças entre eles. Para além dos fundadores na fotografia aqui apresentada e divulgada por Danilo Barreiros no seu livro, O Testamento de Camillo Pessanha (Lisboa, Bertrand Editora, 1961), distinguem-se Camilo Pessanha, D. José da Costa Nunes e Manuel da Silva Mendes. A vida do Instituto foi no entanto curta e a sua obra limitou-se a algumas conferências no Grémio Militar.
A 5 de Maio de 1931, termina a sua actividade docente no Liceu de Macau. A partir de então dedica-se a uma outra actividade que tinha iniciado oficialmente quando foi registado o seu compromisso de honra como solicitador da comarca de Macau. Para além de toda a bagagem jurídica herdada do convívio com o pai, Câncio Jorge, e com o sogro, Albino António Pacheco, ambos advogados provisionários e ambos magistrados, ele próprio tivera uma vida ligada ao Direito e às leis portuguesas, internacionais e chinesas. O reconhecimento do Governo Português também lhe chega por essa época ao ser agraciado em 1926 com o grau de Comendador da Ordem Militar de Cristo. Na pequena introdução que faz ao seu livro Notas sobre a Arte Chinesa (Macau: Tipografia Mercantil, 1940 – 1ª ed.; Macau: Instituto Cultural de Macau, 1995- 2ª ed.) e explicando o livro ilustrado exclusivamente com peças da sua colecção de “cerca de 10.000 peças, representando os principais ramos de arte chinesa – cerâmica, bronze, jade, pintura, caligrafia, escultura, gravura, esmalte, laca, bordado e mobília” José Vicente Jorge esclarece: “Não é um tratado sobre cerâmica chinesa o que apresento, pois a tanto não me abalançava. São simples apontamentos, tirados de vários livros, de conversas tidas com alguns coleccionadores chineses.” Esta enorme colecção, comprada ao longo de toda a vida, estava exposta na altura em que o livro foi feito num casarão, na Rua da Penha nº 20, que José Jorge tinha adquirido em 1919 e que albergava, para além da sua grande família, as cerca de 10.000 peças de arte que refere na introdução ao livro. Sobre o seu fim, pode-se ler o que José Diogo Seco Ribeiro escreveu no seu artigo “A Colecção de Arte Chinesa do Poeta Camilo Pessanha”: “Infelizmente, grande parte desta colecção é vendida, para a América, tendo-se perdido o seu rasto.” Muito provavelmente esta venda efectuou-se depois do fim da Segunda Guerra Mundial (período bastante difícil para Macau), e imediatamente antes de José Vicente Jorge se retirar para Lisboa onde virá a falecer em 1948. O que restava da colecção foi ividido pelos seus dez filhos. O conjunto de moradias que tinham como acesso um logradouro com a entrada no nº 20 da Rua da Penha, foi vendido em Maio de 1948, seis meses antes da morte de José Jorge. Despido das suas talhas, dos seus bronzes, das suas tapeçarias e cerâmicas, a sua propriedade foi inscrita a 15 daquele mês e ano a favor da Missão do Padroado Português no Extremo Oriente, representado por D. João de Deus Ramalho. O palacete, por tanta gente visitado como Museu, transformou-se em convento e nele foi instalado o “Noviciado de Notre Dame des Anges”; Monsenhor Manuel Teixeira refere que em 1961 viviam ainda no vetusto casarão duas religiosas canadianas e quatro professas chinesas (!). Em 1966-1967, com a ameaça da Revolução Cultural e sua possível extensão a Macau, os noviciados foram evacuados para a Formosa e a casa ficou deserta e em degradação irreversível.
Três anos mais tarde, em Outubro de 1970, é alienado pelo Padroado e, a partir de então, a área que ocupava é revendida em lotes parciais conhecendo demolições e construções sucessivas até ao seu completo desaparecimento em 1973.
Camilo de Almeida Pessanha, um dos nomes maiores da poesia portuguesa nasceu em Coimbra cinco anos antes de José Vicente Jorge, a sete de Setembro de 1867. Com 27 anos de idade chega a Macau em 10 de Abril de 1894 para integrar o grupo fundador do recém criado liceu de Macau. Na altura da inauguração do Liceu José Jorge tinha vinte e dois anos e era intérprete tradutor no seu início de carreira. Veio a ser colega de Pessanha como docente do liceu muitos anos mais tarde, em Setembro de 1921. Mas os interesses comuns fizeram com que os dois se cruzassem várias vezes nas suas vidas em Macau e entre os dois crescesse uma sólida amizade baseada em muita admiração e respeito que foram desenvolvendo um pelo outro. Embora o conhecimento entre os dois seja certamente anterior, foi em 1911 que se começaram a encontrar com maior frequência, cimentando mais fortemente as suas ideias, actividades comuns e a amizade. São nomeados conjuntamente para o conselho da província de Macau e figuram regularmente nos júris dos exames dos alunos do Expediente sínico. Como já referi atrás o livro Kuoc Man Cau Fo Su foi publicado em 1915 numa edição de trezentos exemplares custeada pelo Governo da Província, com a co-autoria na tradução: José Jorge e Camilo Pessanha. No mesmo ano de 1914, a 13de Setembro, o Progresso inicia a publicação das “Elegias Chinesas”, traduzidas por Camilo Pessanha. Em 1915, a Imprensa Nacional edita em Macau um “Catálogo da Colecção de Arte Chinesa oferecido ao Museu de Arte Nacional por Camillo Pessanha”. O exemplar reproduzido foi o que pertenceu a José Vicente Jorge e contem uma dedicatória pela mão do poeta: “A seu bom amigo e mestre José Vicente Jorge, testemunho da muita consideração e agradecimento pelos seus favores.” Macau, Julho 29, 1915 Camillo Pessanha Segundo deixou escrito o seu genro Danilo Barreiros, em Abril de 1945, José Jorge manifestou a intenção de doar a um museu de Portugal a sua colecção ou pelo menos as peças mais valiosas da mesma, a exemplo do que fizera o seu amigo Camilo Pessanha; a casa com o seu recheio seriam doadas a Macau, para funcionarem como um museu. Como o seu filho Américo seria o primeiro a embarcar para Lisboa seria ele o portador da imensa colecção e negociador da mesma. Esta decisão não foi aceite por todos os filhos o que levou o coleccionador a escrever em 28 de Abril de 1945 uma carta em que determina o destino da sua colecção. Ainda segundo Danilo Barreiros, durante a ocupação japonesa de Hong Kong, os bancos emissores puseram a circular milhares de notas – as novas notas de Hong-Kong que desvalorizaram logo na sua emissão cerca de 80%, pois constava que perderiam totalmente o seu valor no fim da guerra se a vitória fosse dos aliados. Isto aconteceu, mas as notas não desvalorizaram, o que fez algumas fortunas a quem as tinha comprado. José Jorge não foi bafejado por essa sorte pois comprava apenas dinheiro chinês perdendo assim grande parte do seu capital.

A guerra terminou em 15 de Agosto de 1945. Os macaenses estavam cansados de tudo o que tinham passado e resolveram partir. Os destinos foram vários: Américas, Austrália, África e, claro está, Portugal. Da família Jorge o primeiro já tinha partido em 1935. No princípio de 1946, seguiram no navio “Quanza” o patriarca, com sua filha Amália, o neto João Vasco, a nora Dádá e o neto Zeca. Chegaram a Lisboa em Março de 1946 e instalaram-se num andar na Avenida Praia da Vitória, 3 – 1º Dto. Lisboa, que tinha sido alugada pelo filho Américo. José Jorge, em Lisboa entristecia, passeava a ver as obras da Praça do Areeiro, descurava a sua diabetes na Pastelaria Anabela na Almirante Reis, rodeado dos seus netos e cúmplices de nada dizer em casa dos bolos que ia comendo. À noite conversava com as inúmeras visitas que iam cumprimentá-lo, entre os quais o seu amigo e retratista Fausto  Sampaio. Uma vez por semana, jogava “bridge” . No verão de 1947, passou férias com alguns dos filhos e netos em São Martinho do Porto e na Quinta do Covêlo em Famalicão. A tristeza, a diabetes, a saudade de Macau fizeram com que subitamente o seu coração parasse em 22 de Novembro de 1948, quando sentado no seu sofá lia o “Diário de Notícias” ao lado do seu neto que aqui o recorda, Pedro Manuel. Foi sepultado num jazigo mandado construir em sua homenagem por seus filhos, no Cemitério dos Prazeres em Lisboa.
Texto de Pedro Barreiros e Graça Pacheco Jorge
Nota: imagens do livro referido, algumas da autoria de Carlos Cabral, outro ilustre macaense sobre o qual promete dar 'notícias' em breve.