sábado, 31 de janeiro de 2015

Jantar em honra do Ministro de Portugal em "Peking": 1915

Na imagem acima o cartão/convite do jantar oferecido pelo Governador de Macau "em honra do Ministro de Portugal em Peking e sua Exma. Eposa". Teve lugar no Palácio do Governo a 1 de Fevereiro de 1915. Há exactamente 100 anos... 
A ementa incluía sopa d'ovos, pastéis folhados de frango, garoupa com molho d'alcaparras, língua de vitela com champignos, paté froie gras, perú assado com fiambre e salada, espargos com molho de manteiga, puding d'ovos, frutas da estação. Da lista de vinhos constava Madeira, Colares, Bucelas, champagne e Porto. Havia ainda café, chá e licores.
Palácio do Governo à esquerda (muro do jardim em 1º plano à esq.): 
imagem parcial de um postal publicado em Hong Kong ca. 1890/1900.

Contexto da época e, certamente entre os motivos de conversa do jantar:

A 30 de Novembro de 1911, Sun Yat-Sen foi proclamado presidente da República por uma Assembleia Nacional, em Nanquim. No Norte, Yuan Che-Kai obrigou o imperador Pu-Yi a abdicar a 12 de Fevereiro de 1912, e dias depois a República era instituída em Pequim. Não vendo grande futuro na união do Sul com o Norte, Sun Yat-Sen cedeu a presidência da República ao general Yuan Che-Kai, em Março de 1912.
Recuperada a situação financeira, temporariamente, Yuan Che-Kai tentou acabar como os democratas do Kuomintang a 4 de Novembro de 1913, dissolveu o Parlamento, substituindo-o por uma comissão por si nomeada em Janeiro de 1914, e acabou com as assembleias provinciais, em Março de 1914. A República proclamada por Sun Yat-Sen e confiscada por Yuan Che-Kai foi o impulso vital que bastou para a queda da dinastia Manchu e do império chinês. 
Em Agosto de 1914, os japoneses atacaram Tsing-tao (território alemão) e ocuparam Chang-tung. Em Janeiro de 1915, o governo nipónico apresentou à China um ultimato, perante o qual Yuan Che-Kai teve de ceder, suscitando um movimento nacionalista, principalmente no Sul.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A Zona Interdita da Ilha Verde

As origens da Ilha Verde remontam a tempos antigos. Para este post resolvi recordar o que foi em tempo a "Zona Interdita" da ilha, fruto da presença militar.
Segundo o padre Manuel Teixeira na década de "parte da Ilha Verde está alugada ao Governo da Colónia, que ali tem um pequeno destacamento de soldados, os quais escavaram trincheiras, fizeram campos de jogos, caramanchões, etc.”
A partir da década de 1960, por via da revolução cultural na China e dos momentos de instabilidade política e social que se viveram no território, o local é visto como importante do ponto de vista estratégico (vista sobre a China) e uma parte significativa da área é vedada aos civis. Foi de tal forma a interdição que os alunos do Seminário que habitualmente faziam retiros na ilha deixaram de o fazer. Aliás,  a residência de férias e dos retiros, serviram para aquartelar a Companhia Independente de Caçadores nº 3, por exemplo.
Acima, uma imagem do armazem de combustível "Mei Fu" na antiga zona interdita da Ilha Verde. O Quartel da Ilha Verde ficava no fim da Av. Conselheiro Borja e só era permitida a entrada aos residentes nessa zona considerada interdita mediante apresentação duma medalha de alumínio fornecida pelo Corpo da PSP. As medalhas era requisitadas na esquadra nº 4 (junto ao Canídromo)
Ponte-cais para os barcos de abastecimento de combustíveis aos depósitos da Ilha Verde
A zona interdita contornava o quartel e ficava a cerca de 200 metros da China. Do outro lado, também havia um posto militar pelo que se vigiavam uns aos outros. Toda a zona da ilha verde tinha casa-matas e trincheiras.
Segundo Carlos Dias, que conhecia bem o local na década de 1970, o espaço  "ficava mesmo atrás do antigo Matadouro Municipal perto da Estrada D. João Paulino, onde anualmente durante o inverno, a partir de Novembro a Fevereiro, os aficcionados em fotografia iam lá tirar fotos de gaivotas que eram atraídas pelos restos de sangue, gordura e outros despojos resultantes do matadouro. Este lugar já não existe. Fizeram lá um pequeno aterro conquistado ao mar e está um edifício e um parque para estacionamento de viaturas…"
No início de Dezembro de 1970 a CCAÇ8 estava no Quartel da Ilha Verde e foi 'reforçada' com elementos da CCAÇ2760 que era comandada pelo capitão de infantaria António Manuel Salavessa da Costa e que ali fica até Janeiro de 1973. 
A CCAÇ8 tb chegou a fazer serviço em Coloane e foi desactivada no final de 1974, ano em que o Comando Territorial de Macau terminou

As CCAÇ 2760 e a 2761 chegaram a Macau na mesma data (12 Dez. 1970 - julgo que no 'Índia'): uma 'marchou' para a Ilha Verde e outra para Mong Há. Muitos militares, recorda um recruta local na época, eram oriundos da Madeira e no final da comissão de serviço acabaram por ficar em Macau/emigrar para a Austrália com a ajuda do padre Lancelote Rodrigues.
1970: curso de Sargentos Milicianos. Foto de M. Cardoso
A ilha Verde ao fundo ligada à península pelo istmo. Década 1930-40
Vista a partir do Quartel. Foto de Alfredo Silva

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Joaquim Paço d'Arcos: 1908-1979

Um destes dias numa visita a um alfarrabista em Lisboa encontrei, entre outros, o livro “Amores e Viagens de Pedro Emanuel” da autoria de Joaquim Paço D’Arcos. Calhou-me a quarta edição de 1945 (a primeira é de 1935). Folhas amareladas e com espaço para dedicatória, mas não tive sorte. Estava em branco… Ainda assim, uma preciosidade de um autor cuja veia literária despertou precisamente em Macau, cujas primeiras impressões não foram as melhores. “A cidade sobre todas linda, a pérola cobiçada do Oriente, onde os meus dias teriam que decorrer; o seu bairro chinês pareceu-me aldeola cotejado com o de Hong Kong; o burgo português deu-me o aspecto de vilória de província, transplantada para sob aquele sol ardente. (…) Nem as colinas viçosas, nem as estradas. Serpenteando à beira-mar, nem as sombras seculares das árvores que abrigaram Camões, me reconciliaram com o forçado degredo”. Joaquim Belford Correia da Silva, filho do governador de Macau (1918-1923), Henrique Correia da Silva Paço d’Arcos, publicou duas obras com temas macaenses: "Amores e Viagens de Pedro Manuel" (1935) e "Navio dos Mortos e outras Novelas" (1952).

No primeiro título o protagonista é um chefe da polícia secreta de Macau que era também capitão de piratas nos mares da China. A segunda obra conta a história da filha de um rico chinês residente em Macau, assassinada pelo marido que não admitia que a sua mulher herdasse a fortuna do pai. O navio, que fazia o transporte de mortos chineses do estrangeiro, trouxe os corpos de ambos, pois o marido, condenado pela justiça inglesa, morrera na forca. Ao “Navios dos Mortos” o Times Literary Supplement referiu em Agosto de 1995 que se tratavam de “novelas que têm marca cosmopolita e recordam as de Somerset Maugham”. As obras são de ficção mas os locais e até algumas personagens são reais. Caso do padre Jerónimo, por exemplo. Numa entrevista em 1968 o próprio afirmou: “Existem determinadas figuras humanas que podem ter indirectamente inspirado algumas personagens da minha obra, mas profundamente modificadas. Se há algumas que dão traços de pessoais reais, são pessoas diferentes que nós depois mesclamos e transformamos inteiramente. As nossa figuras são criadas de imaginação, embora reflectindo aspectos da forma humana à nossa volta”. Neto do primeiro conde de Paço d’Arcos e irmão do segundo Conde, nasceu (1908) e morreu em Lisboa (1979). Conhecido como Joaquim Paço d’Arcos, foi um dos escritores portugueses do século XX mais traduzidos no estrangeiro: Brasil, Alemanha, Espanha, Finlândia, França, Inglaterra, Itália, Polónia, Roménia, Suécia, Estados Unidos, Rússia…). No The Penguin Book of Modern Verse Translation (1966) podem encontrar-se dois dos seus poemas.
Partiu com apenas quatro anos para Angola (1912) com os pais e, depois, para Macau (1919) e Moçambique, onde exerceu funções de secretário e chefe de gabinete de seu pai, governador entre 1925 e 1927. A viagem até Macau fez-se via S. Francisco e depois rumo a Hong Kong em 1919 no navio “Persia Maru” e de Hong Kong para Macau na canhoneira “Pátria”, a 22 de Agosto de 1919. “Demandei Macau em noite negra de tufão, na companhia do padre Jerónimo, ao qual fiquei talvez devendo a vida, pelas promessas que fez ao bom Deus se nos salvasse.” Ficaria até 1922. Chega com 11 anos e estuda no Liceu (então no Tap Seac) tendo colaborado no jornal da escola “A Academia”. Um dos professores do liceu foi o padre José da Costa Nunes que viria a ser bispo de Macau e que lhe terá dito da sua especial vocação para a escrita. Segundo Monsenhor Manuel Teixeira, Joaquim “estudava pouco e lia muito, enfolgando-se, sobretudo, nos romances de Camilo”. Nos três anos vividos no território vai muitas vezes a Hong Kong e a Cantão. Em 1925, com apenas 17 anos, está em Moçambique onde é secretário do seu pai (governador da província), regressando a Lisboa dois anos depois até que ruma ao Brasil onde vive de 1928 a 1930 como comerciante (antiquário) e jornalista. Regressa a Lisboa e em 1931 era chefe de repartição da Companhia Nacional de Navegação. Já em França, em 1933, escreve o seu primeiro romance, Herói Derradeiro. Após uma segunda permanência no Brasil, é nomeado em 1936 chefe dos Serviços de Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, cargo que ocupa até 1960, tornando-se igualmente, a partir de 1944, director da Trans-Zambezia Railway. Foi ainda presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores e membro da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses. Foi ainda membro do Pen Club, da Société des Gens de Lettres de France e sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras.
No Dicionário Cronológico de Autores Portugueses (Vol. IV, Lisboa, 1997) pode ler-se: “Obteve diversos prémios literários, o primeiro dos quais coincidiu com a sua nomeação para o cargo de chefe dos Serviços de Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros: foi o Prémio Eça de Queirós (1936), atribuído ao seu romance “Diário de um Emigrante” pelo Secretariado de Propaganda Nacional; o seu livro de novelas “Neve sobre o Mar” foi galardoado com o Prémio Fialho de Almeida, e a sua peça de teatro O Ausente obteve o Prémio Gil Vicente (1942); quanto ao Prémio Ricardo Malheiros, atribuído pela Academia das Ciências (…), o autor recusou-o devido aos termos em que se exprimia o relatório da comissão incumbida de o atribuir e que punha públicas reservas quanto à sua qualidade, designadamente pelo uso frequente de estrangeirismos.”
Romancista, dramaturgo, ensaísta e poeta, premiado diversas vezes, Joaquim Paço d’Arcos foi um caso de sucesso junto dos leitores nas décadas de 1940 e 1950 do século XX, em especial com o romance “Ana Paula”. O conjunto de obras que publicou sob o título genérico Crónica da Vida Lisboeta foi considerado por muitos críticos, quer portugueses, quer brasileiros, fundamental no âmbito da literatura portuguesa. Óscar Lopes escreveu que “Quando se quiser ver a nossa época [anos 40 - 60] num cosmorama literário, tal como hoje vemos a época da Regeneração através de Camilo, Júlio Dinis ou Eça de Queirós, será preciso recorrer a estes romances de Paço d’Arcos quanto a determinados sectores portugueses.”
Na poesia, o seu livro mais conhecido é o “Poemas Imperfeitos”, de 1952. E também aí Macau marca presença nos poemas “Medo” e “Foi numa terra distante”. Após a sua morte, a 10 de Junho de 1979, caiu praticamente no esquecimento. Mas não totalmente, já que como o próprio afirmou “escrever é projectar-se além da vida”. E ele escreveu dezenas de obras: contos, romances, ensaios, teatro, poesia…
Nos últimos anos de vida passou para o papel as suas memórias e não esqueceu Macau, claro, onde viveu parte da juventude. Deixou três volumes prontos e certamente surgiriam mais, mas acabaria por morrer no ano em que foi editado o último (já depois de morrer). Para ele o que escreveu foram “pedaços de livros, predominantemente seus, e pedaços de vidas, em grande parte alheias”. Para Hernâni Cidade, os livros de memórias são “transparentes como vidraça sem cor”, referência à análise objectiva que fazia das figuras humanas características da sua época, em especial das mulheres. Essas figuras/pessoas pertenciam à alta e média burguesia, meios que Joaquim Paço d’Arcos conhecia bem. Aliás, na sua obra encontra-se muitas marcas da sua vivência pessoal.
Em 2008 no centenário do seu nascimento foi doado o seu espólio à Universidade Lusíada que já exibiu publicamente uma parte e que ficou responsável pela sua inventariação e conservação. Já no início deste ano o Círculo Eça de Queiroz organizou em Lisboa uma sessão para celebrar a reedição, num só volume, das “Memórias da minha Vida e do meu Tempo”. Na ocasião, Fernando Pinto do Amaral e Guilherme Oliveira Martins evocaram Joaquim Paço D’Arcos.  Em Lisboa o seu nome ficou perpetuado numa rua.
Algumas das obras que deixou:
Romances: Herói Derradeiro, 1933. Diário dum Emigrante, 1936. Ana Paula: perfil duma lisboeta, 1938. Ansiedade, 1940. O Caminho da Culpa, 1944. Tons Verdes em Fundo Escuro, 1946. Espelho de Três Faces, 1950. A Corça Prisioneira, 1956. Memórias duma Nota de Banco, 1962. Cela 27, 1965
Contos e novelas: Amores e Viagens de Pedro Manuel, 1935. Neve sobre o Mar, 1942. O Navio dos Mortos e Outras Novelas, 1952. Carnaval e Outros Contos, 1958. Novelas pouco Exemplares, 1967.
Poesia: Poemas Imperfeitos, 1952.
Teatro: O Cúmplice: Peça em três actos, 1940. O Ausente: Peça em três actos, 1944. Paulina Vestida de Azul: Peça em três actos, 1948. O Braço da Justiça: Peça em nove quadros, 1964. Antepassados, Vendem-se: Peça em treze quadros, 1970.
Conferências e ensaios: Patologia da Dignidade, 1928. A Floresta de Cimento (Claridade e Sombras dos Estados Unidos), 1953. Carlos Malheiro Dias, Escritor Luso-Brasileiro, 1961. Algumas Palavras sobre a Missão do Escritor, 1961.A Dolorosa Razão duma Atitude, 1965.
Memórias: Memórias da Minha Vida e do Meu Tempo: 3 vols., 1973, 1976 e 1979.
Artigo da autoria de João Botas publicado no JTM de 25.09.2014

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Reedição da “Cronologia da História de Macau"

Quase a completar 71 anos, Beatriz Basto da Silva, tem pronta a reedição da "Cronologia da História de Macau" (edição L.O.) que é apresentada ao público esta semana em Macau. São quatro volumes (1500 páginas) que abordam o período que vai do século XVI ao século XX. A primeira edição era composta por cinco volumes e começou a ser publicada em 1992.
Minha professora de História na década de 1980 em Macau, confidenciou-me por estes dias que esta "é a obra da minha vida" em sintonia com o que já me dissera a propósito da primeira edição numa entrevista publicada no Jornal Tribuna de Macau a 4 de Dezembro de 2009) que esta obra que foi a que mais lhe "tocou". "Cobre desde o séc. XVI ao séc. XX (Período de Transição) e estende-se por cinco volumes (1656 pp.) que exigiram muito de mim. Grande parte foi escrita enquanto professora, sem qualquer dispensa de serviço, sem secretária ou outra ajuda nas buscas. Em boa hora o Governo reconheceu-lhe a utilidade e suportou as edições, facultando-me também apoio gráfico e concedendo-me redução de serviço para concluir o trabalho. Foi muito bem aceite - e ainda hoje é muito procurado – por alunos, estudiosos e curiosos da História de Macau, porque é de fácil consulta e um ponto de partida para outros voos."
Excertos da nota introdutória desta reedição: 
(...) O tempo julgará a entrega, o empenho desinteressado com que fiz esta reedição. Que a obra sirva dois propósitos: – Permitir aos Portugueses, através de Macau, serem mais Portugueses – Sensibilizar a China para a memó- ria-herança humana e cultural que Macau representa, quer num passado secular de convergência, quer no futuro de generosas perspectivas que se abrem, à escala mundial. (...)
Os Séculos XVI e XVII, em especial, foram iluminados pelas recentes versões, em português, de documentos chineses de que não dispus na primeira edição da Cronologia. Tais achegas permitiram agora uma abordagem mais esclarecedora, assim o desejo. O Século XVIII revela-se muito mais documentado do que os anteriores. Os Jesuítas da Corte de Pequim recebem as maiores distinções e cargos, são íntimos do Imperador que os admira. A Missão prospera, conforme relatam nas Cartas Ânuas. Traduzem, publicam e divulgam a Filosofia e Cultura Chinesas, até aí desconhecidas no exterior. A abertura e circulação de informes nos dois sentidos é franca e influencia a Europa das Luzes: Multiplicam-se encomendas de porcelanas armoreadas e não só. Copiam-se em todos os suportes artísticos os motivos chineses (chinoiserie). Correm a organizar-se viagens e embaixadas. Os relatos e pinturas dessas viagens são verdadeiros quadros vivos da época. Macau, porto europeu na China, torna-se centro de paragem/ descanso, muito retratado. O Marquês de Pombal, a meio do século, atinge os jesuítas e, com eles, a Missão da China, já afectada pela Questão dos Ritos. O Ensino em Macau é abalado. Sofrendo as ondas de choque políticas e económicas do século precedente, o entreposto português vive em aperto. Mesmo assim é chamado a prover diplomática e monetariamente as embaixadas que vêm do Reino à China e deverão apresentar-se ao Imperador, pomposas e luzidas. Adensa-se o tráfego Goa-Macau-Timor. A Santa Casa soma ao seu papel social-assistencial a vertente económico-financeira. Assiste-se à pressão dos mandarins do sul e à diplomacia fronteiriça. Estes aspectos têm sido objecto de estudo aturado. A correspondência entre as partes é publicada. As traduções dos respectivos originais e seu cotejo explicam e exibem mais convergência do que poderia pensar-se.
O Século XIX é iluminado pela proximidade ao nosso tempo. Quase todas as notícias têm algum relevo histórico, retratando o seu quotidiano, tão próximo e tão distante dos hábitos de hoje, tão curioso, porque cenário dos nossos antepassados recentes. Há jornais e outras publicações . Enfim, cada pessoa gostará de encontrar factos de que ouviu falar, apreciará apoiar a sua imaginação em documentos e gestos que desencadearam as mil e uma facetas que herdámos e conhecemos, mais ou menos desvanecidas pelo tempo. Fiquei perplexa no tratamento a dar à imprensa periódica. (...) Por força dos motivos indicados, e de alguns mais que adiantarei, a Cronologia do Séc. XIX tem um volume muito maior do que os antecedentes. Basta lembrar que à imprensa de comunicação, que desabrochou aquando do Liberalismo, se juntou toda a literatura referente aos Tratados e Missões Diplomáticas entre Potências Europeias e a China; depois, a existência – a partir de 1841 – de Hong Kong, a que a História de Macau e sua gente está tão intimamente ligada, a multiplicação de feitorias no Sul da Grande Nação vizinha, e, por causa delas, o movimento, em Macau, de pessoas, embarcações e mercadorias que os documentos registam, alargando o cosmopolitismo que os portugueses no Oriente sempre acarinharam. 
É no Séc. XIX que se desenvolve o tráfego de cules, que também aqui registo, se bem que, em livro indicado na Bibliografia, o desenvolva mais por extenso. Há ainda que contar com a Administração, acrescentada à da Península de Macau, das Ilhas da Taipa e Coloane, onde tudo estava por fazer; há que juntar todos os circunstancialismos que a Macau cabia atender a propósito de Timor, suas riquezas, necessidades, quer materiais, quer espirituais. Os piratas viviam em redor de Macau uma época de força. O Senado da Câmara atinge um ponto alto, na luta contra estes fora-da-lei, o que, somado a outras razões, lhe vale por parte de D. João VI o título de Leal. A organização político-administrativa em Portugal tem no enclave os seus ecos, uns mais radicais, outros, pela própria determinação régia, adaptados aos costumes e regras de viver orientais. É a época das Associações e Clubes, dos Estatutos por que se pautam, dos Regulamentos que regem as novas Escolas, da nova organização do funcionalismo, dos novos Códigos e Leis, com suas revisões cada vez mais precisas e objectivas. Se a passagem breve por todas estas alíneas poderá falar da extensão deste volume, cabe-me ainda focar outro aspecto: de início, só tive acesso, com raras excepções em que consegui tradução, a obras escritas em línguas ocidentais, visto não dominar o chinês escrito, muito menos o chinês antigo, e de japonês não dominar a língua escrita nem falada. (...)
A elaboração da Cronologia do Século XX foi tão penosa como gratificante, tantos eram os dados e novos filões informativos que ganhavam lugar imperativo na lista de fontes a consultar. A meio do século há como que uma divisória sugerida pelas convulsões da II Guerra Mundial e seus ecos. No panorama oriental, observa-se, além do mais, o enquadramento na nova ordem, decorrente da implantação da República Popular da China.(...) O Século XX foi também o último século de Administração Portuguesa do Território de Macau. Na edição anterior tracei como limite da Cronologia a Assinatura da Declaração Conjunta Luso-Chinesa, por estar muito envolvida a nível pessoal e político no “Período de Transição” e considerar que a falta de perspectiva não é boa conselheira. Em nada... e muito mais num trabalho histórico. Quase duas décadas depois, considero que o meu ponto de observação é livre e isento para avançar até 19 de Dezembro de 1999. Não obstante, ainda acolhi no trabalho anterior aquilo a que chamei “Apêndice Cronológico – 1988- 1996. Modernização e Internacionalização de Macau: Figuras e Factos”, um anúncio breve mas que reputei como essencial enunciar, pensando um dia desdobrar a riqueza que continha. E esse dia chegou com a presente edição da Cronologia".

A Cronologia está assim dividida: 
1º Vol. séculos XVI, XVII e XVIII; 2º Vol.  séc. XIX; 3º Vol. séc. XX; 4º Vol. inclui relações dos Papas do século XV ao século XX, reis de Portugal a partir da II Dinastia, presidentes da República Portuguesa, capitães-gerais e governadores de Macau, secretários-adjuntos pós-25 de Abril, imperadores e presidentes da China, bispos e governadores do Bispado de Macau, reitores do Colégio de S. Paulo (1564-1762),  vice-reis e governadores da Índia Portuguesa (1505-1961), governadores de Timor; procuradores do Leal Senado, presidentes do Leal Senado, autoridades que estiveram à frente das Ilhas, capitães dos Portos de Macau, Comandantes Militares; inclui ainda os índices remissivos onomástico e temático.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Alberto Carlos Paes d’Assumpção (1942-2015)

Alberto Carlos Paes d’Assumpção, mais conhecido como Acaio, morreu esta semana no Brasil onde foi presidente da Casa de Macau no Rio de Janeiro.
Era o filho mais novo de João Corrêa Paes d’Assumpção e Epifânia Assam Paes d’Assumpção. Numa entrevista ao JTM recordou que “foi com a minha mãe que aprendi a arte de cozinhar, pois naquela época em Macau, após a guerra, a minha mãe incentivou-nos a mim e aos outros sete irmãos a aprender um pouco de tudo, pois como ela dizia nunca se sabe o que será o dia de amanhã”.
O gosto pela gastronomia macaense foi-lhe ainda passado pela tia Anita d’ Assumpção. Foi com ela que “devido à minha vontade e ao interesse em aprender, aprendi o “pulo do gato” de vários pratos macaenses".
Segundo Henrique Manhão, "toda a família era dedicada ao desporto. Durante a sua juventude Acaio foi excelente praticante de “Karate”, tendo chegado a ser cinturão negro, enquanto os seus irmãos António e José eram bons jogadores de futebol, com presenças habituais na selecção de Macau"
Nascido a 3 de Setembro de 1942 em Macau, Acaio concluiu 5 º Ano do Curso Industrial no Colégio Dom Bosco em 1963 e um ano depois torna-se amigo e aluno de Lau Kim Keong, Mestre em Medicina Tradicional chinesa. Em 1966 ganha o concurso para escriturário de 1ª Classe da Inspecção do Comércio Bancário de Macau. Por intermédio de Lau Kim Keong é apresentado ao mestre Lei Lau que praticava alem de On Mó a especialidade denominada Tit Tá. Ao mesmo tempo, começa a treinar Karate-Do no estilo Seigokan. Ainda em Macau, no final da década de 1960 começou a tratar pequenos problemas de entorses e de coluna. Em 1970 graduou-se Faixa Preta 1º Dan e no ano seguinte emigrou para o Brasil (Rio de Janeiro) onde trabalhou como desenhador projectista e foi professor de Seigokan Karate-do e instrutor de Karate. Em 1977 fundou a Federação de Karate-Do do Estado do Rio de Janeiro. Em 1980 regressou a Macau para aperfeiçoamento das Técnicas de On Mó e Tit Tá. No capítulo das terapêuticas tradicionais foi mestre reconhecido, tendo escrito um livro intitulado “O Método Acaio".

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

William Prinsep (1794–1874)

William Prinsep (1794-1874) foi um pintor britânico que conviveu com Auguste Borget, aprendeu com George Chinnery e, muito provavelmente, também conheceu Marciano António Baptista... Três nomes maiores da pintura do século XIX que viveram em Macau.
William Prinsep (1794-1874) andou mais pela Índia e deixou uma vasta obra de pinturas, nomeadamente a óleo. Visitou Macau no Outono de 1838 tendo ficado espantado com a qualidade da obra de Borget e dito que o francês era um bom 'camarada' de ofício. Terá vivido no território até 1842 ano em que regressou a Inglaterra. Produziu várias obras no território (desenhos, aguarelas óleo sobre tela): incluindo um quadro a óleo do interior do templo de A-Ma, outro do exterior do templo e uma cena de rua em "Wa Kuong" (ver imagens abaixo).
 William era o quinto de sete filhos (alguns seguiriam a carreira artística) de John Prinsep (1748–1830) militar britânico colocado em Bombaim em 1771 na Companhia das Índias Orientais. William já conhecia Chinnery (da Índia) - que não só o ensinou a pintar como também lhe fez vários retratos por volta de 1820: um a sós e outro com Prinsep e a mulher. Chinnery partiu para Macau em 1825 à pressa por causa das dívidas que acumulara e deixou alguns quadros por acabar admitindo-se que foi Prinsep a fazê-lo.
Nas suas memórias William escreveu assim sobre Chinnery: "When he ran away to China we found ourselves joint losers of more than 30000Rs. and the public pictures were most of them never painted at all. I found a message left for me that I might realise if I would a few half finished portraits which the badness of his health rendered it impossible for him to do more to. By an accident I found that he had placed his most valuable sketchbooks in the hands of a Frenchman of the name of L'Emarque from whom I easily procured them upon explanation of the circumstances. Chinnery was told they would be sold by auction if he did not redeem them himself which he never did, but circulated a story in China, which of course was run behind, that I had stolen them from him. The sum they and the few pictures alluded to produced was a mere trifle."
 
William Prinsep belonged to a large and well-known Anglo-Indian family, which produced a number of artists. His father, John Prinsep, of the East India Company, often regarded as the founder of the indigo trade in India, had seven sons, all of whom followed him to India as traders, lawyers or civil servants. William, the fifth son, worked for the House of Palmer & Co., bankers and merchants, in Calcutta. He took lessons in painting from George Chinnery and was a prolific amateur artist. Prinsep worked in Macao (where Chinnery had settled) from the late 1830s until his journey home to England in 1842. He met Borget there in the autumn of 1838 and  returned to England in 1842.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Equipa hóquei em campo do LNIDH: 1956

O hóquei em campo foi uma modalidade desportiva muito popular no território ao longo da primeira metade do século XX. 
Nesta fotografia (enviada pelo leitor Rui Francisco) pode ver-se a equipa de hóquei em campo do Liceu Nacional Infante D. Henrique (LNIDH) em 1956 no campo da Caixa Escolar numa altura em que o Liceu ainda funcionava no Tap Seac num edifício que ficava em frente a este campo. O edifício ainda existe (é a sede do ICM) o campo é que já não...
As várias escolas do território (portuguesas e chinesas) tinham uma participação activa ao nível do desporto praticando-se diversas modalidades  e realizando-se torneios e campeonatos entre elas.
Na imagem em pé: Banhares, Generoso Silva, Armando Almeida, João Basto Silva, Humberto Barros e Victor Serra (g.redes). À frente: Álvaro Andrade, Severino Silva, Francisco Rodrigues, Jorge Basto Silva, Olavo Brito Lima.

Criado por por portaria de 1893 o Liceu Nacional de Macau começou a funcionar a 28 de Setembro de 1894 no convento de Sto. Agostinho, antigo quartel da extinta Guarda Policial.
Quando o convento ruiu passou a funcionar num casarão entre a Praia Grande e o Leal Senado. Já nos primeiros anos do século XX passou para o hotel Boa Vista e depois para o edifício da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida (Tap Seac) onde ficou até 1958. Nesse ano transferiu-se para a Praia Grande (frente à Escola Comercial - hoje Escola Portuguesa)  onde funcionou até 4 de Janeiro de 1986 quando foi inaugurado o Complexo Escolar na ZAPE que funcionou até 1999 quando foi criada a Escola Portuguesa de Macau. O edifício da Praia Grande seria demolido entre 1989/90.
Neste link encontram vários posts relacionados com o Liceu.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Licença para Caça: 1974

Licença emitida pela "Administração do Concelho das Ilhas" em Dezembro de 1974 ao portador de uma "espingarda caçadeira" para caçar nas ilhas da Taipa e Coloane. Licença válida por um ano.
No final do século XIX e início do século XX não só se caçava nas ilhas como também era habitual caçar-se para lá da Porta do Cerco, na China.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Morte da rainha Vitória de Inglaterra: 22 Janeiro de 1901

Na 6ª feira, 25 Janeiro de 1901, o suplemento do "Boletim Official do Governo da Província de Macau" destaca a morte da rainha de Inglaterra (1819-1901) - "Her Magesty the Queen Empress" - ocorrida no dia 22, publicando vários de telegramas relacionados com o tema: desde o recebimento da notícia pelo governo de Macau  por parte do ministro em Lisboa ou do governador de Hong Kong, bem como o envio de condolências por parte do governador Horta e Costa ao governador de Hong Kong, na época colónia britânica.
Teor do "telegramma" enviado de Portugal "Governo em manifestação sentimento pela morte rainha de Inglaterra resolveu manter até dia funeral os distinctivos de bandeira em terra e mar em signal de luto. No dia funeral que ainda não está designado são fechadas repartições públicas e prohibidos espectáculos públicos e n'esse dia artilharia deve fazer tiros ordenança. Sua magestade El-Rei parte para Londres dia 26 para assistir funeral ficando regente reino Sua Magestade rainha D. Amélia. Câmara deputados resolveu suspender sessões até dia funeral." O rei D. Carlos foi a Londres ao funeral. Com a morte da rainha Vitória (com 81 anos e 63 de reinado) terminou um ciclo que ficou conhecido por "época vitoriana".

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Caixa 'slides': final década 1950

 Mesa onde foi assinado tratado sino-americano em 1844
 Ruínas de S. Paulo
 Estátua Gov. Ferreira do Amaral (actualmente em Lisboa)
 vendo-se parte do edifício do Liceu
 Templo de Kun Iam Tong
 Pagode da Barra
 Jardim Luís de Camões (entrada)
Caixa de 5 slides a cores do final da década de 1950 com 5 vistas de Macau. Os diapositivos - Kodak Eastman (nome do fundador da empresa) Color" - foram feitos em Hong Kong e eram vendidos não só lá como também em Macau onde eram muito procuradas nas décadas de 1950/60 não só pelos residentes como também pelos turistas que assim ficavam como uma recordação do território.


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Postal: "Porta do Cerco vista do Território Português"

Postal nº 12 de uma colecção da década de 1930 com uma imagem da "Porta do Cerco vista do Território Português". Do lado de lá um língua de "terra de ninguém" com algumas dezenas de metros a que se seguia a China continental. O postal tem os selos colocados na frente e não no verso como era habitual. Nos dois lados da estrada de acesso à fronteira terrestre com a China ficavam instalações militares.
No verso do postal um carimbo do correio aéreo atestando o envio do postal entre Hong Kong e Brindisi (Itália) através da Imperial Airways, uma empresa criada em 1924 com o objectivo de fundir todos os serviços aéreos britânicos, e que viria a terminar a sua actividade precisamente em 1939 quando foi criada a BOAC. Na década de 1920 juntou a British Marine Air Navigation Company Ltd., a Daimler Airway, a Handley-Page Transport Ltd. e a Instone Air Line Ltd., ficando com pouco mais de uma dezena de aeronaves ao serviços. Ligava o império britânico (Ásia, África e Austrália) a Londres fazendo escala em inúmeros países e tendo outras empresas como parceiras.
Com o agudizar da guerra sino-japonesa (iniciada em 1937) o serviço de correio aéreo seria profundamente afectado o que se prolongou até ao final da 2ª Guerra Mundial. Sofreu inúmeras alterações de rota e até passou a ter a concorrência da norte-americana Pan Am que começou a operar em Macau a partir de 1937.
Carimbo sobre os selos (total de 52 avos - um deles de avião): 6.11.1939
 

domingo, 18 de janeiro de 2015

Auto de Aclamação de Sua Majestade El-Rei D. Carlos I (1889)

“Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, aos vinte e oito dias do mês de dezembro de mil oitocentos oitenta e nove e nos Paços do Concelho desta Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, achando-se presente S. Exª. o Governador Sr. Contra-Almirante Francisco Teixeira da Silva, o conselho do governo, o Leal Senado da Câmara e mais autoridades e funcionários eclesiásticos, civis e militares e uma grande multidão de povo, ali e na conformidade do programa publicado em o nº 51 do Boletim da Província de 19 do corrente mês, se procedeu à cerimónia de aclamação de Sua Majestade El-Rei D. Carlos I, o que se efectuou, indo S. Exª. o Governador à varanda da casa da Câmara , acompanhado do coronel António Joaquim Garcia, que levava o estandarte real, e aí o mesmo Exmº. Sr. deu vivas a SS. Majestades e à família real, vivas que foram correspondidos entusiasticamente pelo povo, o que de tudo para constar se lavrou este auto, que depois de lido foi por todos assinado. E eu Euclides Honor Rodrigues Viana, escrivão de administração do concelho, servindo de escrivão da Câmara, no impedimento do mesmo, que o escrevi e assinei. E.H.R. Viana, escrivão. Assinados.
Francisco Teixeira da Silva, Governador – João José da Sila – António Joaquim Garcia, coronel – Manuel Pais S. Castro – António Augusto Barbosa Viana – António Joaquim Basto – José Gomes da Silva – Nicásio Simões – I. J. Baptista – F. P. Sena – José Ribeiro – Maximiano A. dos Remédios – C. Millisch, cônsul dos Pays Bas – Jos R. Coulthard, v.consul for Great Britain – José H. Costa Campos, major – C. de Canto e Castro, moço fidalgo da casa real – Pe. Sebastião Maria Aparício da Silva – José Ribeiro de Santa Bárbara – Carlos Augusto de Magalhães e Silva – Albino A. Pacheco, administrador – Amâncio d’Alpoim Cerqueira Borges Cabral, director das obras públicas – Manuel José de Aguiar Trigo – Eduardo C. Lourenço, capitão – Rafael das Dores, major – Wenceslau José de Sousa Moraes, 1º tenente – Pedro Nolasco da Silva, 1º Intérprete – J. C. Alcobia, 2º tenente – Joaquim Ramiro Madeira, major – Francisco de Paula Mendes da Rocha – Artur José dos Reis, 2º tenente – José Fernandes de Oliveira, major reformado – José Victorino, major reformado – Manuel d’Amaral Carvalho Vieira, tenente ajudante de campo – A. O. Marques, tenente do batalhão nacional de Macau – António Maria Gutierres, tenente – Firmino António da Rosa, juiz aposentado de Timor – Francisco de Medeiros Morais, alferes do 3º batalhão do regimento do ultramar – João Pires Guiso – José Sanches del Aguila, alferes – Francisco Luiz – Frederico Augusto Guerra Soares, alferes.
Está conforme. Macau, secretaria do Leal Senado, 7 de Janeiro de 1890. S. A. Tavares, escrivão do Leal Senado”.
Texto publicado no Boletim Oficial de Janeiro de 1890. O Auto de aclamação ocorreu a 28.12.1889 no Leal Senado. D. Carlos, penúltimo rei de Portugal, nasceu em Lisboa a 28 de Setembro de 1863 e morreu (assassinado) a 1 de Fevereiro de 1908. Subiu ao trono em finais de 1889.
Os "Paços do Concelho" ou "Câmara" era o Leal Senado. Entre os signatários deste auto e aclamação contam-se o governador Francisco Teixeira da Silva e outras figuras proeminentes da sociedade macaense do final do século XIXI: José Gomes da Silva (director dos serviços de Saúde), Wenceslau de Moraes, Pedro Nolasco da Silva, entre outros, e o cônsul dos Países Baixos (Holanda) e o vice-cônsul da Grã-Bretanha.
Na imagem um selos de 20 avos com a figura de D. Carlos I. Este selos circularam em Macao desde o final da década de 1890 e continuaram em circulação no início do século XX, sendo reutilizados no período posterior a 1911 daí a palavra "República" (sobrecarga) surgir a vermelho, embora de forma invertida o que não era habitual.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Novos futebolistas... artigo do Notícias de Macau (1972)

Duas fotos de equipas de futebol 11 no Campo 28 de Maio (Canídromo) e um artigo do jornal Notícias de Macau assinalando as saídas e entradas de futebolistas no território em 1972, quer os da "selecção militar" quer os da "Associação de Futebol de Macau" e ainda os do Pelotão da Polícia Militar. De acordo com militares da época, nas imagens estão as equipas de "Norte" (cima) e "Sul" (baixo). "A equipa do Sul foi a vencedora por 2 bolas a zero" seguindo-se "um almoço reforçado, um salteado com todos, e toca a ir direitinho ao Palácio do Governo fazer o serviço". O PPM3124 dominava as provas só lhe fazendo frente a equipa do Destacamento de Manutenção.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Os primeiros livros impressos em Macau

A vinda da imprensa para Macau e o Japão deve-se à iniciativa do Pe. Alexandre Valignani, que escreve, desde Goa, a 1 de Dezembro de 1587, ao Arcebispo de Évora, D.Teotónio de Bragança: "tenho mandado vir impressão que levo comigo a Japão para imprimirmos os livros lá (ex)purgados, e limpados quais convêm a Japão" (Cartas do Japão, edição de 1598). Escrevendo ao Geral da Companhia, Cláudio Acquaviva, em 1583, o mesmo Padre afirma idêntica resolução de levar a imprensa para o Japão (A imprensa de tipos móveis,por Jordão de Freitas,1916).
A 11-VIII-1588, chegou a Macau a Embaixada dos 4 príncipes cristãos do Japão, de regresso de Roma, trazendo consigo um prelo e tipos móveis. Acompanhava-os, desde Goa, Valignano e mais 17 missionários da Companhia. Aqui se demorou a luzida embaixada ano e meio, pois só desembarcou em Nagazáqui, a 21-VII-1590. Neste breve intervalo, imprimiram-se, em Macau, com esta tipografia destinada ao Japão, dois livros. O primeiro foi a reedição duma obra do Pe. João Bonifácio, S.J., aparecida em Salamanca em 1575. O Pe.Joannes Laures,S.J., na obra Kirischitan Bunko - A Manual of Books and Documents on the Early chistian Missions in Japan - Sophia University, Tokio, 1940, traz o catálogo, a descrição e o frontispício de 30 obras existentes impressas nesta tipografia, e referências a 25 outras. Portanto, saíram dos prelos dessa tipografia trazida pelos jesuítas a Macau e ao Japão 55 livros conhecidos.
1º livro impresso com caracteres móveis (1588)
Entre os 30 existentes do Catálogo do Pe. Laures, o 1.º, 2.º e 30.º foram impressos em Macau. Os restantes em várias cidades do Japão. O primeiro intitula-se "Christiani Pueri Institutio" - Educação da Criança Cristã. A sua portada pode ver-se na obra do Pe. Laures e em "Archivos de Macau", Janeiro de 1941, p.36, num artigo do Sr. J. M. Braga. Esta obra latina destinava-se à juventude japonesa, educada segundo os moldes clássico do "Ratio Studiorum" dos jesuítas. Foi publicada, "apud Sinas,in Portu Macaensi, in Domo Societatis Jesu, Anno 1588".  
No ano de 1590, saiu a lume, em Macau, a tradução latina do Pe Duarte (em latim "Eduardus") de Sande, S.J., chamada "De missione Legatorum Japonensium ad Romanam Curiam... dialogus". O autor do original, provavelmente escrito em espanhol e conservado manuscrito, é certamente o Pe. Alexandre Valignano, como o provam as suas cartas (Monumenta Niponica, I). Sande, como se diz na própria portada, traduziu-o para um latim elegantíssimo. Está o livro dividido em 34 diálogos. Infelizmente, nada descreve da vida de Macau. Existe uma reimpressão do original em Anvers, no ano de 1593, baptizada com o nome de "De trium regum japonicorum legatis". Carlos Sommervogel, S.J., em "Bibliothèque de la Compagnie de Jésus", Paris, 1866, menciona ainda uma versão castelhana. Não se tratará do original de Valignano?
Na carta dirigida ao Geral da Companhia, Aquaviva, inserta no prefácio do "De Missione Legatorum...", o Pe.Sande afirma que o livro seria traduzido para japonês. Daniel Bartole, S.J., na sua Del'Historia della Compagnia di Giezu in Giappone, Roma, 1650, afirma que 1.000 destes livros em japonês foram distribuídos no Japão. O Pe.Laures, contudo, na sua referida obra, não conhece a existência de qualquer cópia. Da edição de Macau conhecem-se 11 exemplares, um dos quais,que tem escrito no frontispício por um copista "Do Colégio de Cochin" foi parar às mãos do investigador japonês Koda. Este historiador fez uma edição recente em zincogravura da obra primitiva (cfr."Archivos de Macau", Fevereiro-Marco de 1941).
Em 1862, António José Figueiredo deu a lume, no volume VI do Archivo Pittoresco, uma versão portuguesa resumida desta obra, com o título de "Primeira Embaixada do Japão à Europa". O Pe. Gervaix (Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau,n.º 196), Campos Júnior (em Ta-Ssi-Yang-Kuo, vol.3.º) e António J. Figueiredo (Archivo Pittoresco, vol.V) afirmam que o Pe. Sande escreveu e editou, também em 1590, em Macau, os dois textos: português e japonês. A existência desse texto português é muito problemática. Esta obra tem a licença de impressão de D. Leonardo de Sá, "Bispo da China e do Japão", outorgada na "Cidade de Macau, a 5 de 1589", e a censura e aprovação dos PP. Valignano, Tiago Antunes e Nicolau de A'vila, datada de 2 do mesmo mês e ano.
Em 1591, a imprensa, que estivera em Macau, editava, já no Japão, a obra nipónica "Santos no Gosaguyo-no uchí Nukigaki" ou Vida dos 12 Apóstolos, Santos populares e Mártires.
Em Agosto de 1616, com o recrudescer da perseguição contra o Catolicismo no Japão,a tipografia regressava a Macau. Nesta cidade, em 1620, foi impressa a "Arte Breve da Lingoa Japoa" do célebre historiador Pe. João Rodriguez, S.J., natural de Sernancelhe. Depois de 1624, nada se sabe do do paradeiro da tipografia. Por 1640, saiu uma lei proibindo dar à estampa livros nas colónias portuguesas. Esta em pleno vigor em 1736. A tipografia não foi, seguramente, enviada para Manila, conforme alguns escritores opinaram ("Jesuítas na A'sia"). O autor que mais aprofundou este assunto da Imprensa antiga em Macau foi o Sr. J. M. Braga (cfr."Archivos de Macau" 1941; "Boletim eclesiástico da Diocese de Macau, Maio 1938 e Ago.1941; e "O inicio da Imprensa em Macau",1938).
 A impressão por gravura em madeira foi conhecida pelos chineses,muitos anos antes da descoberta de tipos móveis por Guttenberg. Os caracteres amovíveis também eram usados,em pequena escala,na China. No reinado de Káng Hsi(康熙),1662-1722,os jesuítas introduziram o tipo metálico de cobre,nessa Nação,tendo sido fundidos,então,por ordem desse Imperador,250.000 destes caracteres.
A 29 de Novembro de 1584, publicou-se, pelo processo xilográfico,o catecismo chinês do Pe.Miguel Ruggieri, S.J., intitulado "Um genuíno Tratado sobre o Senhor do Céu". A tiragem de 1.500 exemplares foi provavelmente feita em Macau, pois o Códice 49-V-3 da Biblioteca da Ajuda, a fls.2, assevera que o sobredito Padre "fez logo hum catecismo que lhe fez em letra china hum letrado christão que aqui (em Macau) fez" (citação em Arquivos de Macau). Conservam-se, ainda, em Roma, dois exemplares desse catecismo, enviados para o Vaticano em 28-XII-1585.
O Sr. J. M. Braga ("Archivos de Macau",vol.1,1941) enumera mais 6 obras impressas por xilografia, em Cantão ou Macau. No Códice 49-V-11, a fls.519-521 das séries "Jesuítas na Asia", existe um "Catálogo dos livros que os nossos (Jesuítas) têm feito na China". O compilador desta lista, feita, por 1640, enumera mais de 120 obras, só em chinês, escritas e impressas ou xilogravadas pelos jesuítas, no seu primeiro século de missionação na China. Deve, pois, ter sido assombroso o trabalho destes missionários, apenas no campo editorial. Muitas destas e doutras inúmeras obras, redigidas noutras línguas e também na chinesa, viram, quase de certeza, a luz da publicidade em Macau.
Esta cidade tornou-se, assim, então, o maior centro de cultura no Extremo-Oriente. Os "Ecos da Missão de Shiu-Hing": Nov. e Dez.de 1933; Ano VII,N.os 73 a 80; Ano VIII, N.os 87-88 e 91-92, falam-nos um pouco das obras escritas, sobretudo em chinês, por alguns jesuítas portugueses, dentro do Império do Meio.
Artigo da autoria de Benjamim Videira, S. J. (a que retirei algumas das referências bibliográficas: páginas, volumes, etc... para facilitar a leitura). Para mais informações sobre o tema sugiro a leitura de "Origens da Imprensa em Portugal" de Artur Anselmo (1981).