sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Uma embaixada portuguesa ao Sião em 1890

Em 1890 António Gonçalves Pereira (1855-1942) viaja até ao Reino do Sião (actual Tailândia). É uma das muitas viagens que este oficial da marinha (captião-tenente médico no início do século XX) faz ao longo de 28 anos de serviço no Oriente (1888-1916). Eis um excerto.
"O governador de Macau, que era também embaixador de Portugal junto da corte do rei do Sião, tinha de ir ali apresentar as suas credenciais. Mandou aprontar a canhoneira que deveria ir esperá-lo a Saigão, visto ele e a sua comitiva irem a bordo de um navio francês até aquele porto. De Saigão iriam a bordo da canhoneira por ser rara a navegação para o Golfo do Sião.
Viagem óptima até Saigão e, se alguma coisa a perturbou, foi o imenso calor que sofremos. Principalmente depois de passarmos a ponta de Saint-Jacques e entrarmos no rio, onde se tornou insuportável. (...) No dia seguinte ao da chegada, levantamos ferro e começamos a descida para o Golfo do Sião. Depois de contornarmos a costa do Vietname, entrámos no Golfo. Começaram as chuvas torrenciais, as trovoadas medonhas e o calor abrasador. A canhoneira fundeou quase a meio do Golfo, e tão distante da terra que esta nem com um binóculo se via. O Golfo está muito assoreado, as margens são muito baixas e não há balizas que mostrem com segurança a foz do Menam. Havia, pois, toda a necessidade de cautela para que o navio não ficasse todo encalhado no lodo. Depois de fundearmos apareceu uma lancha a vapor para conduzir o governador a Bangkok. Nós seguimos a bordo da nossa lancha a vapor. A distância da canhoneira à foz do Menam era muito grande e tinha de ser feita com toda a cautela. Entrámos no Menam. Na margem esquerda está a povoação de Pak-nam, fortificada para a defesa da entrada do rio. Vê-se um pagode branco, em forma de pirâmide cónica e muito alta.
Uma linha férrea dali para Bangkok ia ser inaugurada dentro de poucos dias. Subimos o rio que é larguíssimo, caudaloso, e onde podem navegar navios de grandes dimensões. As margens do rio são quase impenetráveis pela compacta vegetação que as cobre, estendendo-se pelas encostas das montanhas que de um e outro lado se erguem. Não se vêem sinais de existência de seres humanos naquelas matas virgens a perderem-se de vista: árvores colossais e afluentes caudalosos. Assim seguimos, com a mesma paisagem, até Bangkok num percurso de trinta quilómetros em que se gastam sete horas a subir o rio, debaixo de um forte calor tropical. Numa curva do rio avistam-se, ao longe, esguias torres de várias formas e feitios e, por fim, entrámos no estuário de Bangkok. (...)

Atracámos a um pequeno cais nos jardins do consulado português e  dirigimo-nos para um hotel onde nos instalámos. A cidade de Bangkok é a capital do reino do Sião. Fica a 25 quilómetros da foz do rio Menam, que a divide ao meio, ficando à direita uma parte composta de choupanas, jardins e grande número de pagodes, e à esquerda a cidade propriamente dita, que tem dez quilómetros de raio. Entre elas fica o grande estuário, onde flutuam milhares de embarcações e jangadas de todas as formas e tamanhos, paradas ou em movimento, sempre embandeiradas, parecendo que se está em festa. As margens são guarnecidas de casas, todas de madeira, parte delas em terra e parte delas sobre o rio, assentes em fortes estacas, havendo entre elas magníficos e grandes jardins. Muita gente habita em casas construídas sobre jangadas, entre as quais a do embaixador da Noruega, que numa delas tinha a sua embaixada. 
Na cidade propriamente dita está a cidadela com o Palácio Real e todas as dependências dele. É rodeada por uma muralha com várias portas e torreões, alguns dotados de peças de artilharia. 
Tanto dentro como fora da cidadela vêem-se numerosas e formosas torres de templos e pirâmides, maravilhosamente recortadas, guarnecidas de cristais e porcelanas, onde se reflectem os raios solares, produzindo um efeito deslumbrante. Dentro da cidadela está o palácio real, construção semi-europeia e siamesa. É sumptuoso, mas sem obedecer a uma arquitectura clássica, quer europeia, quer oriental. Os salões que nos foi permitido ver são amplos, bem mobilados e há um onde estão os bustos de todos os monarcas europeus trabalhados em mármore e grandes vitrinas com valiosíssimos presentes dados por esses monarcas. Entre eles está o busto do nosso saudoso rei D. Luís e o seu respectivo presente: um binóculo de ouro todo cravejado de brilhantes e esmeraldas.
Ao lado do palácio destacam-se: o Mahaprasat, majestoso de quatro fachadas com magníficas esculturas, terminando num alto pináculo dourado. É ali que o rei recebe os embaixadores e é ali que jaz o rei defunto, encerrado numa urna de ouro durante um ano, até que se proceda à sua incineração. É ali que vão pregar os monges mais sábios. O Wat-Phra-Keo, o templo de Buda Esmeralda é riquíssimo. As portas são de ébano com incrustações de prata, o chão é coberto por uma esteira de prata, as paredes maravilhosamente pintadas com assuntos da vida siamesa. No corochéu dum elevado altar está um Buda feito de uma só esmeralda, de três palmos de altura e dois de largo, cujo valor é inestimável. Os pagodes reais são de uma tal magnificência que não se faz ideia na Europa. Há onze dentro da cidadela e uns vinte fora das muralhas. Vêm depois os currais dos elefantes brancos que são admiráveis exemplares de paquidermes, e muito numerosos. Foram-nos apresentados pelos tratadores, que lhes deram uma refeição de palha diante de nós. Não são totalmente brancos, mas de cor amarelada. Em todo o caso, não são pretos como os que em geral se vêem."
António José Gonçalves Pereira in "Imagens do Oriente: impressões de viagens". Macau: Museu Marítimo, 1999.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Breve relação da vida e feitos de Lopo e Inácio Sarmento de Carvalho



"Breve relação da vida e feitos de Lopo e Inácio Sarmento de Carvalho: grandes capitãis que no seculo XVII honraram Portvgal no Oriente", da autoria de C. R. Boxer (1904-2000), edição de 1940.
Trabalho realizado no âmbito das comemorações do ano dos centenários da Fundação e Restauração de Portugal. Ilustrado em folhas intercaladas no texto. Impresso nas Oficinas da Imprensa Nacional. Tiragem limitada a 450 exemplares




“(...) Aludimos ao ilustre guerreiro seiscentista, Inácio Sarmento de Carvalho, cujo nome, afinal, vai ser perpetuado numa rua da cidade, onde nasceu, e que ilustrou pelas suas acções em defesa do Império Português no Oriente contra os inimigos Europeus e Asiáticos (...)”
Inácio Sarmento tem em Macau uma Travessa com o seu nome. A referência toponímica também se aplica a Lopo que tem uma avenida com o seu nome em Macau (junto ao hotel Lisboa) desde 1940. Começa entre a Rua da Praia Grande, e a Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, em frente da Estrada de S. Francisco, e termina na Avenida da Amizade.


Inácio Sarmento de Carvalho foi Capitão general de mar e terra no sul da Índia Oriental. Ignoram-se as datas do nascimento e falecimento. 
A 11 de abril de 1650 foi aprovado para exercer cargos na Índia, e D. João IV o nomeou sucessivamente governador de Baçaim, Damão e Rachol. Em 1658 foi nomeado comandante da armada do norte, depois recebeu a Capitania de Goa e diploma de conselheiro do Estado da Índia; e o governo de Moçambique em 1667.

Lopo Sarmento de Carvalho era um mercador oriundo de Bragança. Começou por se estabelecer na Índia (1607) e depois em Macau em 1615; foi Capitão – Mor da viagem do Japão em 1617 e em 1622, aquando do ataque dos holandeses, quando era capitão-mor da cidade comandando as tropas que defenderam o território de forma vitoriosa do invasor. Não tendo nunca tido acesso ao Senado, desempenhou o cargo de Provedor da Santa Casa da Misericórdia e foi ainda Capitão-–Mor da viagem de Manila. Integrou o núcleo de Eleitos da década de 1640, e foi considerado uma das «seis pessoas de mais authoridade, e praticas» no debate que, a propósito do envio de uma Embaixada ao Japão, ocorreu na cidade entre 1645 e 1646. Em 1642 tendo-se revelado, à semelhança do seu cunhado, pouco influente nas contradições ocorridas entre o Governador do Bispado frei Bento de Cristo, e o Comissários do Santo Ofício, padres Gaspar Luís, e Gaspar do Amaral, assinou o Termo de 31 de Maio aquando da aclamação de D. João IV em 1642. Embora tenha feito parte do núcleo de Eleitos e Adjuntos, foi por via do Reino, exógena à hierarquização social própria da cidade mercantil em questão, que se inscreveu num círculo de poder associado a Goa. A fortuna que diz possuir em finais da década de trinta de Seiscentos, orçada em seiscentos mil cruzados, favorecem-no inegavelmente em 1645. Contando com 62 anos de idade neste ano, e com vinte e oito anos de estadia em Macau, refere-se a si próprio nos seguintes termos: «(...)] fidalgo da caza de sua Magestade Caualleiro profeço capitão mor que foi desta cidade por duas vezes, e das viagens de Japão, e Manilla, Provedor da Santa Casa, outras duas Vezes».
Nota: Entre 1557 e 1623, não havia ainda a figura do Governador, eram os capitães-mores que comandavam os destinos de Macau



terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Memórias, por Marechal Gomes da Costa

Julgo que a primeira edição deste livro data de 1930. A da imagem é de 2012 de onde retirei alguns excertos relativos a Macau na primeira passagem de Gomes da Costa pelo território. Chegou em 1865, era ainda uma criança, tendo feito os estudos no Seminário de S. José. Regressaria ao território a 8 de Outubro de 1922, acompanhado do seu filho Carlos Nunes Gomes da Costa, como Secretário, e o tenente Salgueiro Rego, seu ajudante de campo, para inspecionar os serviços militares de Macau.

Manuel de Oliveira
Gomes da Costa (1863-1929) foi um militar português (campanhas de pacificação das colónias em África e na Índia, I Grande Guerra Mundial) e político que liderou a revolução de 28 de Maio de 1926. Seria Presidente do Ministério (10.º presidente da República) por pouco tempo. Gomes da Costa afastou Mendes Cabeçadas da Presidência da República e assumiu os seus poderes até 9 de Julho de 1926, enquanto não foi designado um novo Chefe de Estado.

 




sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Boas Festas / Seasons Greetings / 节日问候 / 佳節快樂

 Telegrama enviado de Macau para Portugal no Natal de 1959

Na prática o remetente pagava pela mensagem (nº de palavras escritas), neste caso, "boas festas e felicidades no ano novo") e em Portugal os CTT escreviam a respectiva mensagem num telegrama previamente impresso para o efeito. No caso, uma ilustração de Alfredo Moraes.
Dada a época, sugiro a leitura dos seguintes posts para recordar o Natal Macaense.
Passatempo" 8 anos - 80 livros"
No passatempo que visou assinalar não só os oitos anos do projecto como também a marca de um milhão de visitantes, participaram 23 leitores que vão receber em casa um exemplar do livro "Liceu de Macau 1893-1999".
Para não ser exaustivo refiro apenas três das muitas frases enviadas:
- "O Projecto Macau Antigo traz grande memórias a quem já viveu e passou por Macau há algumas décadas e, como tenho uma amiga que passou a sua infância em Macau, será uma grande surpresa para ela o livro." Pedro Oliveira
- “Reviver Macau Antigo, preenche o coração de Amor e Saudade!”. Rita Lopes
- "História passada feita memória. Bom projecto". Carlos Ferreira
As leitores do blogue Macau Antigo ficam os meus votos de boas festas, melhores leituras e um excelente 2017, onde podem contar com muitas 'estórias' sobre a história de Macau!




quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Anúncio da Typographia Mercantil: 1870

AVISO 
O cavalheiros que se servirem de subscrever para o Boletim do Governo de Macau, terão a bondade dirigir os seus pedidos a typographia Meercantil nas casas nº 14 sitas na praça de Ponte e Horta.
Preços de assignaturas 
Por um anno $8/Por semestre 5/ Por tremestre 3.
Annuncios:
Não excedendo de 10 linhas $1.
Excedendo de 10 linhas, 10 avos por linha pela primeira publicação, e 5 avos por cada subsequente publicação. Recebe-se qualquer obra para se imprimir na mesma typographia por preços módicos segundo a convenção, empregando-se no seu desempenho todo o cuidado e esmero. 
Desde esta data fica substituído ao antigo titulo de Albion Press o de typographia Mercantil.
Os srs. que tem annuncios neste jornal querendo continuar as suas inserções se dignarão avisar a mesma typographia. 
Macau, 3 de janeiro de 1870

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Semanário Ilustrado "Branco e Negro": 20 Dezembro 1896

Branco e Negro foi o nome de um semanário ilustrado publicado de 5 de Abril de 1896 a 27 de Março de 1898 (104 números) pela livraria e casa editora António Maria Pereira, sedeada na Rua Augusta n.º 50 a 54, em Lisboa. Cada exemplar custava 40 réis.
Na edição nº 38 - 20.12.21896 - foi publicado um artigo intitulado "O Oriente - Macau" ilustrado com uma gravura do hospital S. Januário.
O director da publicação, José Sarmento, escreve um pequeno texto de introdução ao essencial do artigo que é a reprodução de um texto do Conde de Arnoso sobre Macau e que surgira no livro Jornadas pelo Mundo. Sarmento escreve assim: "(...) Isto a propósito das Jornadas pelo Mundo (...) livro encantador e luminoso que nos falla d´essa impenetrável e silenciosa China, tão cheia de coisas imprevistas, tão typica, tão atrazada e por isso mesmo tão curiosa, onde ha, para quem saiba vêr, uma tão subtil e colorida analyse a fazer. É realmente de tentar este passeio ao paiz dos amarellos; e Bernardo Pindella, com raras qualidades de colorista, d´elle nos trouxe um pedaço delicioso, claro e aromal como um bosque de tamarindos. (...) Das Jornadas pelo mundo que são, n´este ponto o livro de viagens que nos traduz melhor a impressão sentida, doce impressão, como a que se tem a um pôr de sol que morre n´uma gloria d´oiro, recortamos um bello trecho sobre a cidade de Macau."

De seguida, reproduzo alguns excertos do texto do Conde de Arnoso, que chegou a Macau a 23 de Junho de 1887, juntamente com Tomás de Souza Rosa:
“Encontrar terra portugueza, a mais de 3:600 leguas de distancia da nossa querida patria, é tamanha ventura, que os cinco dias que estivemos em Macau contarão na nossa vida como para o caminhante no deserto contam as horas de descanço passadas à sombra bemfazeja das palmeiras d´um oásis. E o orgulho de ser portuguez parece crescer ainda quando, pisando a bella terra, volvemos os olhos para o passado e de memória folheamos as paginas da nossa gloriosa historia. (…)
O seminário de S. José é o unico estabelecimento de instrucção secundária da província.
Esta casa de educação soffreu um grande golpe com a expulsão dos dois unicos professores estrangeiros, jesuítas que n´ella existiam. Foi o decreto de 1871 que reorganisando o seminario de S. José, prohibiu que n´elle professassem disciplinas padres estrangeiros. Esses dois unicos jesuitas, d´um grande saber, e que tão relevantes serviços tinham prestado á mocidade estudiosa de Macau, tiveram então de sair. Um é hoje professor em Melbourne; o outro tem a seu cargo em Roma, como redactor principal, a Civittà catolica. É triste vês como um simples traço de penna pôde ter tão funestos resultados.Não se imagina a differença que existe entre os macaístas que foram ainda discípulos d´esses dois padres, e aquelles que não puderam aproveitar das suas lições. Ao sexo feminino prestam hoje relevantes serviços as irmãs de caridade italianas estabelecidas em Macau. Além de receberem as orphãos e as educarem, as suas classes são frequentadas pelas filhas de macaístas e empregados da província. Ensinam tambem a lêr e a trabalhar as ceguinhas pobres. Não se calcula a quantidade de chinas, ou absolutamente cegos ou vendo tão pouco que os fórça a trazer óculos fixos, que por toda a parte se encontram.As irmãs italianas, apezar de abençoadas por todos, não estão livres tambem de ser expulsoas um dia por algum ministro repentinamente atacado de liberal jacobinismo, formula estapafurdia e indígena muito do apreço de conspicuos conselheiros. O actual bispo de Macau, D. António de Medeiros, não descura um momento, com os eu incansável zelo, estes dois estabelecimentos de instrucção. Prelado d´uma illustração que eguala a sua virtude, não lhe serviu a purpura para descançar. Novo ainda, encontramol-o magro e pallido, mirrado pelas febres devoradoras de Timor, adquiridas na longa visita que ultimamente fez no pelo interior d´aquella ilha ás Missões por elle creadas. Durante algum tempo estivemos presos da iua palavra fluente, ouvindo-o discorrer com rara largueza de vistas e superior bom-sendo sobre o estado actual e o futuro de Timor. Uma recente lei creou felizmente um lyceu em Macau que já está funccionando”.

 
O Conde de Arnoso (título atribuído em 1895) é Bernardo Pinheiro Correia de Melo (1855-1911), também conhecido pelo pseudónimo literário de Bernardo Pindela (1855-1911). Foi Fidalgo da Casa Real, capitão do Estado-maior de engenharia, oficial às ordens do rei D. Carlos e seu secretário particular, escritor e diplomata.
Acompanhou a Pequim, em 1887, como secretário, o conselheiro Tomás Rosa numa missão diplomática, que tinha por fim celebrar um tratado com a China, e foi o negociador do convénio do primeiro de Dezembro desse ano. 
As notas dessa viagem de 9 meses (roteiro da viagem: Singapura, Saigão, Hong Kong, Macau, Xangai, Tien-Tsin e Pequim) foram reunidas num livro (ca. 440 páginas) a que chamou Jornadas pelo Mundo, publicado em 1895 pela casa editora Magalhães & Moniz, do Porto.



domingo, 18 de dezembro de 2016

Wartime Macau: living on the edge

Por estes dias, mas em Dezembro de 1941, o exército japonês estava muito próximo de consumar a invasão de Hong Kong mudando o rumo dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Macau não chegou a ser invadido pelas tropas nipónicas mas a sua história mudaria para sempre...
Everything changed in World War Two. After the Japanese takeover of Hong Kong in December 1941, Macao became the only part of East Asia not under Japanese control. The population tripled with a massive influx of refugees.
Na sequência da edição do livro “Macau 1937-1945: os anos da Guerra”, em 2012, da autoria de João F. O. Botas, o professor Geoffrey C. Gunn, desafiou vários investigadores a colaborarem na edição de uma obra, escrita em inglês, que abordasse os diversos aspectos das consequências em Macau da segunda guerra mundial (segunda guerra-sino japonesa e guerra do pacífico) período do domínio militar japonês na região. Agora chega às livrarias o resultado desse trabalho sob o título “Wartime Macau: under the japanese shadow”, uma edição da Hong Kong University Press.
O livro - apresentado em Macau nos primeiros dias de Dezembro - teve a coordenação de Geoffrey C. Gunn e conta com a participação de João F. O. Botas, Roy Eric Xavier e Stuart Braga.

An international group of contributors come together in Wartime Macau: Under the Japanese Shadow to investigate how Macau escaped the fate of direct Japanese invasion and occupation. Exploring the broader diplomatic and strategic issues during that era, this volume reveals that the occupation of Macau was not in Japan’s best interest because the Portuguese administration in Macau posed no threat to Japan’s control over the China coast and acted as a listening post to monitor Allied activities.
Índice / Content
Introduction
Geoffrey C. Gunn
- Chapter 1. Wartime Macau in the Wider Diplomatic Sphere
Geoffrey C. Gunn
- Chapter 2. Macau 1937–45: Living on the Edge: Economic Management over Military Defences
João F. O. Botas
- Chapter 3. Hunger amidst Plenty: Rice Supply and Livelihood in Wartime Macau
Geoffrey C. Gunn
- Chapter 4. The Macanese at War: Survival and Identity among Portuguese Eurasians during World War II
Roy Eric Xavier -
Chapter 5. Nossa Gente (Our People): The Portuguese Refugee Community in Wartime Macau
Stuart Braga
- Chapter 6. The British Army Aid Group (BAAG) and the Anti-Japanese Resistance Movement in Macau
Geoffrey C. Gunn
- Epilogue, Geoffrey C. Gunn
- Conclusion, Geoffrey C. Gunn
Appendices
I: English Version of Letter from Governor Teixeira to Consul Fukui re Military Ultimatum
II: Jack Braga’s Notebook on the Price of Rice
III: Maria Broom’s Letter Detailing Her Hong Kong–Macau Escape Experience
Glossary, Timeline, General Bibliography, Contributors, Index

Some Reviews/ Algumas Recensões:
Asian Review of Books, por Peter Gordon
“Wartime Macau deals with a fascinating and woefully understudied topic. The essays collected here show that there was no singular experience of World War II in Macau; how one experienced the war depended on a complex calculus of ethnicity, class, and connections. And yet, taken together, these experiences shaped the trajectory of the city’s political and social development for decades to come.”
Cathryn H. Clayton, University of Hawai‘i at Mānoa
“This book represents a real breakthrough. Previous English-language accounts of Macau during the World War II have focused largely on the activities of the British in this neutral ‘Casablanca’. Drawing extensively on Portuguese, Japanese, and local Macanese sources, Geoffrey Gunn and his team have assembled a far broader picture, revealing the dilemmas and choices of Portugal’s beleaguered colonial government and placing Macau in a geopolitical context that stretched from the Azores to Australia.”
Philip Snow, author of The Fall of Hong Kong

sábado, 17 de dezembro de 2016

Beco do Marinheiro

O Beco do Marinheiro fica perto do Beco do Tabaco e do Beco da Pedra, na zona de S. Tiago da Barra.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

"Pagode Chinoise a Macao"

"Pagode Chinoise a Macao", é o nome deste quadro/pintura de Theodore Auguste Fisquet (1813-1890) que retrata o Pagode da Barra tb conhecido por Templo de A-Ma.
Como segundo tenente da marinha francesa, Theodore Fisquet, efectuou inúmeras viagens e fez duas vezes a volta ao mundo conciliando as suas funções militares com a paixão pela pintura e pelo desenho. Nos seus diários de bordo começou por fazer esboços e desenhos que mais tarde seriam litografados. Aconselhado por um aluno do barão Ferdinad Wachsmuth Gros, aprimorou-se nos efeitos da sombra e da luz. Reformou-se em 1875 como major-general da Marinha francesa.
Esta e outras pinturas foram publicadas no livro "Voyage autour du monde executé pendant les années 1836 / 1837 sur la Corvette La Bonite" commandee par M. Vaillant, pela Akermann & Co, de Paris, em 1852. Nesta obra destaque ainda para os inúmeros desenhos de plantas e animais que foi encontrando ao longo das viagens.
 A legenda do quadro e a assinatura de Fisquet

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Fidalgos no Extremo Oriente em língua chinesa

A obra monográfica ‘Fidalgos no Extremo Oriente 1550-1770: factos e lendas de Macau antigo’, uma das mais emblemáticas redigidas pelo historiador inglês CharlesRalph Boxer, está agora disponível em língua chinesa. 
Inserida na colecção “Macaulogia”, a obra foi traduzida por Li Qing, académico doutorado que desempenha funções no Departamento de História da Universidade de Macau (UMAC). 
A coordenação editorial da versão chinesa de “Fidalgos no Extremo Oriente”, obra que foi publicada em versão Portuguesa pela Fundação Oriente em 1990 (imagem ao lado), foi da responsabilidade de Hao Yufan, reitor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau e de Tang Kaijian, professor no Departamento de História da mesma instituição de ensino superior. Ainda que com o apoio do Instituto Cultural e da Fundação Macau, a publicação do volume em língua chinesa foi promovido pelo Centro de Publicações da Universidade de Macau. 
O livro, que aborda os primórdios da História do território, foi editado pela primeira vez em 1948, pelo poeta e ensaísta holandês Martinus Nijoff. A segunda versão, editada em 1968, foi da responsabilidade da Oxford University Press.
in HM 12.12.2016
No blogue existem inúmeros posts sobre Charles Boxer, sugiro este.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Pessanha na pedra por Vhils

Alexandre Farto - ou Vhils, a identidade que o artista português cedo emprestou à sua intervenção no espaço urbano - inaugurou na sexta-feira passada, no Consulado-Geral de Portugal, um mural sobre o qual escavou o rosto de Camilo Pessanha. À peça – a primeira que apresenta numa representação diplomática portuguesa – chamou “Invisível – Visível”.
Foto Carmo Correia/Lusa
(...) "Perfurar, escavar camada sobre camada o rosto pintado que o stencil estendeu sobre a superfície. Emprestar-lhe textura, profundidade e volumetria. Ampliar a visibilidade do rosto que se impõe na aceleração da cidade com a omnipresença de um grito mudo. Aos 29 anos, Alexandre Farto carrega já biografia extensa num mundo de arte urbana que em anos recentes acentuou a transposição da acção furtiva na rua para o cenário até então interdito e sacrílego de museus e galerias. Representado pela galerista Vera Cortês desde a adolescência, Vhils cruzou cedo a intervenção ilegal e cronometrada do graffiti com o tempo lento e de maturação do processo expositivo. Num movimento contínuo dentro e para lá da rua, sem lhe rejeitar o vínculo de pertença. Da singularidade da técnica escultórica a que há anos recorre – e onde o martelo pneumático ou o cinzel se conjugam por vezes com a carga explosiva – resultou uma infinidade de rostos em grande escala que se impõem na mancha urbana de cidades como Londres, Lisboa, Los Angeles, Madrid, Moscovo, Xangai, Sidney ou o Rio de Janeiro.
A estreia em Macau acontece depois de “Debris”, a primeira exposição individual em Hong Kong, que entre Março e Abril se instalou no Cais 4 do terminal marítimo de “Central”, e ainda noutros pontos da cidade onde o artista fixou residência, ainda que de modo intermitente, há mais de um ano. Alexandre Farto chega a Macau numa iniciativa conjunta do Consulado-Geral de Portugal e da Casa de Portugal, convidado a intervir no espaço público da representação diplomática portuguesa no território, de que resultou uma peça a que chamou “Invisível - Visível”. O projecto dá continuidade a outros que tem desenvolvido, “com figuras que são relevantes para a história dos sítios” onde habitualmente actua: “Vem nesta perspectiva de tornar o invisível, visível. Tornar a história que muitas vezes está presente nos sítios visível”.
O autor, Alexandre Farto, ao lado da obra, numa foto de Eduardo Martins
A que associou a dimensão de tributo: “Neste caso tentei fazer esta homenagem também à obra de Pessanha, que é uma obra muito relevante para a história de Macau”, contou o artista, em declarações à imprensa, já depois de arrancado o pano que desvendou perante o clamor da massa humana - onde figuravam dois trinetos de Pessanha -, o rosto impassível do poeta. “A técnica vem já de um projecto que tenho feito há vários anos. Consiste basicamente em marcar as diferentes tonalidades e, dependendo da profundidade a que vou, consigo ir buscar camadas diferentes. Vem muito deste conceito do acto que destrói mas também cria, e tem a ver com o facto também de querer expor a história do local”, explica Alexandre. (...)"
Excerto de artigo de Sílvia Gonçalves in jornal Ponto Final 12.12.2016
Fachada principal do antigo hospital de S. Rafael, actual consulado de Portugal em Macau. Foto de João F. O. Botas


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

"Mala para a Índia e Europa"

AVISO 
FECHAR-SE-HA neste correio a mala para a India e Europa por um dos vapores da companhia peninsular no dia 30 do corrente ás 3 horas da tarde e depois dessa hora não se hade receber nenhuma carta mais para a sobredita mala.
R de SOUSA Administrador interino 
Correio marítimo, Macau, 22 de agosto de 1870
A empresa referida é a Peninsular and Oriental Steam Navigation Company (P&O), empresa de navegação fundada na Inglaterra em 1822. A companhia foi formada para a exploração das rotas comerciais com a Península Ibérica, e posteriormente assinou um contrato com o governo britânico para o transporte de correio para o Egipto.
É esta a razão pela qual as cores da bandeira são alusivas a Portugal (o branco e azul da monarquia) e o amarelo e vermelho, a Espanha.
Em meados do século XIX, para além do comércio do mais variado tipo de produtos, incluindo ópio, a empresa passa a assegurar o correio marítimo - criado em Macau em 1798 - entre o Oriente (Índia, desde 1842 e Hong Kong (1845) e Ocidente.

sábado, 10 de dezembro de 2016

A indústria do peixo seco/salgado

A indústria da pesca teve os seus tempos áureos em Macau, território banhado por águas doces e salgadas. Para além do peixe fresco em Macau fazia-se muito "peixe seco" e "peixe salgado". A poluição do delta do rio acabou por ditar o fim desta actividade no final do século XX.
Para a história ficou o registo toponímico Rua do Peixe Salgado, em chinês, 食魚 ham yu, no Porto Interior, junto à Calçada da Barra.
Na obra "Portugal e as Colónias Portuguesas" (1920), Fortunato de Almeida refere que "é muito considerável a indústria da pesca, que abastece de peixe frêsco, sêco e salgado a cidade de Macau, Hong-Kong e outras povoações."
No final da década de 1920 a indústria da pesca empregava cerca de 20 mil pessoas sendo "uma das maiores riquezas de Macau". Num texto da época informa-se que "perto de um milhar de juncos de alto mar estão empregados nesta indústria e o valor da sua exportação em peixe salgado anda por 3 milhões de patacas. O peixe salgado é exportado para toda a parte do mundo." Em 1923 as estatísticas indicam um total de 20 mil toneladas de peixe e mariscos pescados.
Em 1952 o peixe salgado surge como o produto que mais contribui para as exportações com um total de quase sete milhões de patacas, superando o fabrico de panchões.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Passatempo: "8 anos - 80 livros"

Para assinalar os oito anos do blogue Macau Antigo, numa acção em parceria com o Turismo de Macau em Portugal, na semana de 12 a 16 de Dezembro, as primeiras 10 pessoas que se dirigirem à Livraria do Turismo de Macau em Lisboa, recebem de oferta um livro mediante os títulos disponíveis: oferta de 10 livros por dia num total de 50 livros.
Serão ainda oferecidos pelo autor 30 exemplares do livro “Liceu de Macau 1893-1999” aos primeiros 30 leitores que enviarem um e-mail com uma frase sobre o projecto para: macauantigo@gmail.com até 10 de Dezembro de 2016.
Livraria do Centro de Promoção e Informação Turística de Macau - Av. 5 de Outubro, 115 r/c - Lisboa - Horário: 2ª a 5ª feira, das 10h às 18h30; 6ª feira, das 10h às 18h15

sábado, 3 de dezembro de 2016

O daguerreótipo

O daguerreótipo, primeiro passo para a fotografia, foi um processo fotográfico desenvolvido por Louis Daguerre em 1837. Poucos anos depois a novidade tecnológica chegava a Macau. 
Primeiro através de Jules Itier, em 1844, e depois por nomes como George R. West, Louis Legrand e Cesar Von Duben, autênticos daguerreótipistas itinerantes.
Este post é ilustrado com alguns dos daguerreótipos feitos em 1844 em Macau por Jules Itier.
Deixou ainda para a posteridade um diário da sua viagem pela China "Journal d’un voyage en Chine en 1843, 1844, 1845, 1846" editado em Paris em 1848 com um total de 3 volumes.
Jules chega a Macau a 13 de Agosto de 1844 e por ali fica até ao início de Setembro, seguindo depois para a China, mas haveria de regressar.
13 Agosto
"L'ancre tombe nous sommes devant Macao et à quatre encablures de nous se balance la frégate la Cléopâtre montée par le commandant Cécille."
15 Agosto
"Il est onze heures la flottille des canots s'ébranle; nous allons donc enfin fouler cette terre de Chine! la population se presse sur le quai de Praja-Grande où l ambassade française va prendre terre. Son chef aurait bien pu poser sur la rive chinoise son pied gauche le premier mais les dieux de la Chine n'ont pas permis cette calamité et c'est le pied droit en avant qu il a débarqué. Plusieurs Chinois spécialement chargés de recueillir ce présage ont constaté le fait le succès de notre entreprise est désormais assuré à leurs yeux .A quoi tiennent pourtant les plus grandes choses."
A 20 de Julho de 1845 (no 3º Volume), na segunda passagem por Macau, Jules Itier escreve no diário:
"J'ai loué à raison de 25 piastres par mois 140 fr l' ancienne factorerie française de Macao qu habitait autrefois M de Guignes l'auteur du grand Dictionnaire chinois édité sous les auspices de Napoléon. Me voici installé dans cette charmante demeure pleine encore des souvenirs de la France. Je dispose de vingt chambres j ai des jardins immenses des terrasses une vue délicieuse sur le port intérieur et le quartier Chinois."