sábado, 19 de junho de 2010

Dia de Macau: 24 de Junho ou 10 de Abril?

Em conversa informal com a Historiadora Beatriz Basto da Silva tida há poucos dias a propósito de Macau, dizia ela que embora o Dia de Macau seja comemorado a 24 de Junho (dia de S. João Baptista e em que no ano de 1622 o Padre Rhó segundo rezam as crónicas da época conseguiu o tiro certeiro sobre os holandeses expulsando-os de vez) a verdade é que o Dia da Cidade também poderia (ou deveria) ser comemorado a 10 de Abril. Foi nessa data no ano de 1583 que Macau recebeu do Vice-Rei da Índia, D. Duarte de Menezes, o foral/ título de cidade.
Mas tb aqui - como noutros temas ligados aos primeiros anos da chegada dos portugueses a Macau - existem diferentes versões.  Há quem defenda que a elevação de Macau à categoria de cidade só ocorreu em 1586 com o foral de Santa Cruz de Cochim, concedido pelo vice-rei da Índia. Alguns autores consideram a data de elevação ocorrida em 1583, sendo 1586 apenas a data da confirmação.
Com o foral de Santa Cruz de Cochim de 10 de Abril de 1586 concedido pelo Vice-Rei da Índia, D. Duarte de Menezes, são conferidos ao Senado amplos poderes tanto a nível político como administrativo e judicial. As regalias e os privilégios eram iguais às da cidade de Évora. Posteriormente foram reconhecidas e confirmadas por foral régio de 18 de Abril de 1596. Esta instituição afirmava-se, então, como um órgão governativo por excelência da cidade de Macau que manteve uma ampla autonomia relativamente ao governo da metrópole durante mais de dois séculos.

A pender a balança para o ano de 1583 está o facto de ter sido nesse ano criado o Leal Senado. Presidido pelo Governador do Bispado ou pelo Capitão-de-Terra (com assistência do Ouvidor) era constituído por dois juízes, três vereadores e um procurador da Cidade. Foi ainda criada um primeiro grupo de guarda para garantir a segurança pública. A eleição do Senado era feita de três em três anos pela população; entendendo-se aqui população como os portugueses comerciantes e não só, que aqui residiam. Em questões mais sérias e de cariz mais delicado era convocado o Conselho Geral, onde se reuniam em assembleia os ex-senadores, o capitão-de-terra, o clero e os cidadãos em geral deliberando sobre as medidas necessárias a tomar.ecordo que o jesuíta ficou para a história quando desferiu de um canhão da fortificação do Monte para o sopé da colina da Guia, no sítio chamado de Praia de Cacilhas (sim, ali era uma praia) e a que ainda hoje os chineses chamam “Ho Lan Iun”, a propósito da incursão holandesa, nas imediações da actual Avenida Sidónio Pais, local onde foi erigido um monumento, o da “Vitória”... mas que se chegou a chamar de Campo dos Arrependidos, isto por causa dos holandeses que na refrega ficaram literalmente aos papéis e sem saber para onde ir...

Mas voltando ao Padre Rhó... (e sugerindo que visualizem o que foi o ataque holandês na imagem de cima...),
Estávamos em meados do século XVII e o gesto deste homem mudou para sempre o rumo da história. Rhó acertou em cheio na carroça do paiol dos invasores holandeses que transportavam a pólvora para os seus canhões e musquetes e com os quais pretendiam tomar de assalto (mais uma vez, já antes o tinham tentado e outros se lhes seguiram) um dos mais importantes portos dos mares do Sul da China em plena época áurea do comércio da prata.
Aos primeiros sinais de ataque os sinos tocaram a rebate os civis protegeram-se como puderam nomeadamente nas igrejas e os militares saíram para a rua. Ainda segundo relatos da época os maiores tesouros, nomeadamente religiosos, foram transportados para a igreja de S. Jose.
A ajudar Rhó estiveram os militares portugueses comandados por Rodrigo Ferreira. O golpe final aos holandeses deu-se com a junção de dois grupos de combate de Macau que os atacaram quando se dirigiam a outra elevação. Em debandada, os holandeses ainda foram atacados pela população. No combate final em Cacilhas, os holandeses tentaram alcançar os navios mas, cansados e feridos, muitos afogaram-se e um dos barcos, superlotado, afundou-se. Dizem os registos portugueses que cerca de 350 holandeses morreram em combate ou afogados. Do lado das forças 'macaenses' o balanço foi de 4 portugueses, 2 espanhóis e vários negros mortos, para uma batalha que durou cerca de duas horas.
Praia Grande: ilustração de 1843
Pela tão grande desproporção de forças em combate, a vitória foi considerada um milagre. Após os combates, foram todos à Catedral para uma solene acção de graças, tendo o Senado e os moradores feito votos de comemorar este dia daí em diante, cuja salvação da cidade foi atribuída a São João Baptista.
Imagem inédita datada de cerca de 1900:
 vista sobre a baía da Praia Grande

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